O coordenador da reforma do Serviço Nacional de Saúde (SNS)NS para a área dos cuidados continuados integrados, Manuel Lopes, fez uma descrição do panorama nacional, em Bragança, num seminário promovido pela Santa Casa da Misericórdia para assinalar os quatro anos da Unidade de Cuidados Continuados local.
Segundo disse, “a região do país que tem mais dificuldade de cobertura é a região de Lisboa e Vale do Tejo” e nesta área “não é o interior que está prejudicado” em termos de resposta a quem necessita de cuidados médicos depois da alta hospitalar ou em situação de dependência.
De acordo com o responsável nacional, “dentro de Lisboa e Vale do Tejo a pior cidade é Lisboa, com mais de metade das faltas de camas e das respostas domiciliárias”.
Manuel Lopes afirmou que não é possível falar de uma taxa de cobertura nacional dos cuidados continuados porque “fica distorcida pela região de Lisboa”.
“O Algarve tem uma cobertura quase a 100%, o Alentejo está na casa dos 90 e muitos por cento, a região Norte dos 80 e tal por cento, a diversidade é tão grande que a taxa nacional distorce por causa de Lisboa e Vale do Tejo (que) está abaixo dos 50%”, concretizou.
Manuel Lopes tem também a responsabilidade da estratégia do SNS para uma maior proximidade e disse ainda não estar satisfeito com a cobertura nacional, apesar de no país existirem “aproximadamente 8.500 camas e seis mil pessoas a receber cuidados em casa”, o que soma cerca de 14.500 respostas.
“Eu não posso estar satisfeito porque o que acontece é que as necessidades da população são crescentes”, afirmou.
O coordenador nacional vincou que “é bom que fique claro” que o país não está “a ganhar a batalha da luta contra a dependência funcional nas pessoas idosas, ou seja está a aumentar mais depressa o número de anos vividos do que o número de anos vividos sem dependência”.
“Estamos a viver mais anos, mas também estamos a viver mais anos com dependência, ou seja, continuamos a ter cada vez mais pessoas a precisar de mais cuidados”, apontou.
Para Manuel Lopes, “isto não é um problema do Ministério da Saúde, é um problema de todos” que exige o envolvimento de todos os atores, “nomeadamente, a nível local, das câmaras municipais “porque o modo como se vive na cidade depende em grande parte das câmaras municipais”.
“Para as pessoas idosas puderem andar na rua têm de ter ruas decentes, puderem andar em transportes públicos, têm de ter transportes públicos capazes, para puderem estar nas suas casas, as casas têm de estar adaptadas à sua situação. Isto é um desafio societal e individual, não se pode começar a preparar a velhice quando tiver 65 anos”, exemplificou.
O coordenador nacional conclui que “a resposta não deve ser avaliada só pelo número de camas, que promove a institucionalização”, e defende “uma resposta de mais proximidade”.
“Nós defendemos é a criação de equipas de cuidados continuados integrados que vão a casa das pessoas e a esse nível ainda precisamos de continuar a trabalhar para criar mais equipas e mais capacidade dessas equipas para levarem cuidados a casa das pessoas, cuidados esses que precisam de ser articulados entre a saúde e a segurança social para desse modo as pessoas puderem envelhecer em sua casa”, indicou.
Segundo o coordenador, a idade média dos doentes da rede “é muito elevada, está acima dos 80 anos” e “todos eles têm várias patologias, têm o grupo de doenças normais destas idades, como hipertensão, diabetes e obesidade, doenças osteoarticulares, fraturas do fémur”.
Há, contudo, concluiu, “outra realidade muito presente na população idosa, que é as situações de demência, e a probabilidade de uma pessoa ter demência a partir dos 65 anos aumenta muito com a idade, a cada cinco anos duplica, segundo alguns estudiosos”.
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