Rui Tavares falava aos jornalistas no Palácio de Belém, em Lisboa, no fim de uma reunião de uma delegação do Livre com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que iniciou hoje uma ronda de audiências aos partidos com assento parlamentar.

Na sua declaração inicial, o dirigente e deputado único do Livre sustentou que tem havido nos últimos meses "uma clara degradação das condições de trabalho entre órgãos de soberania" e defendeu que "a saída é pelo parlamento", através de mais diálogo por parte da maioria do PS.

Interrogado se considera que foi entretanto afastada uma crise política, Rui Tavares respondeu: "Não é o Livre que tem na mão haver uma dissolução ou não. Na verdade, quem tem na mão haver uma dissolução ou não é o próprio Governo e o senhor primeiro-ministro, pelo tipo de liderança e de coordenação que imprimir ou deixar de imprimir ao Governo".

"Nós achamos que o Governo deve governar, deve governar como prometeu, de forma dialogante, e que se o fizer em diálogo com o parlamento evitaremos uma crise política, em que o país pode estar a saltar, como se costuma dizer, de forma coloquial, da frigideira para a fogo ou seja, para uma situação de incerteza", acrescentou.

O deputado do Livre alertou para "a possibilidade de uma maioria de direita com a extrema-direita", um cenário em relação ao qual disse ver abertura por parte da "direita mais tradicional" em Portugal, "por muito que tente às vezes evitar o assunto".

Segundo Rui Tavares, "o Livre existe para evitar esse cenário e para dar alternativas de uma governação de progresso, no quadro europeu, responsável ecologicamente, e democrática", e para isso "não pode e não deve continuar a ser um partido pequeno".

Quanto ao diálogo com o PS e o Governo, o deputado do Livre queixou-se de falta de disponibilidade e iniciativa dos ministros para reuniões, "ou por não terem indicação por parte do primeiro-ministro ou por não terem eles próprios essa capacidade de mobilização política" – ressalvando que a relação do partido com a ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, "é ótima".

A este propósito, observou: "Sente-se que há na população umas saudades bastantes grandes do tempo da 'Geringonça', durante a qual era necessário negociar, porque não havia uma maioria absoluta, e as pessoas percebem que a política assim é mais transparente, é menos ocupada pelos aparelhos partidários ao nível do Governo e acaba por dar uma resposta mais coerente e constante aos anseios por parte da sociedade civil".

"Não havendo neste momento essa capacidade de reformar uma convergência à esquerda", Rui Tavares apelou ao PS para que "faça aquilo que prometeu, que é ser uma maioria absoluta dialogante".

"O nosso diagnóstico é que está muito longe de cumprir com essa promessa", declarou.

Nesta reunião com o Presidente da República estiveram também Paulo Muacho e Ana Natário, membros do Grupo de Contacto, órgão executivo do Livre, e Tomás Cardoso Pereira e Isabel Mendes Lopes, que fazem parte da Assembleia do Livre, órgão máximo deste partido.

Rui Tavares aproveitou esta ocasião para destacar propostas do Livre, umas rejeitadas, outras aprovadas pela maioria parlamentar do PS, como o passe ferroviário nacional – medida que, ainda assim, apontou como insuficiente na sua versão atual, prometendo propor o seu alargamento no Orçamento do Estado para 2024.