A manifestação intitulada “Enfrentar a Tirania” vai atravessar parte da cidade até junto ao parlamento britânico, a poucas centenas de metros de uma outra manifestação convocada por sindicatos e organizações antirracismo sob o lema “Parar Tommy Robinson”.
A polícia anunciou medidas reforçadas de segurança “para garantir que os dois grupos opostos sejam mantidos separados” e foram impostas restrições preventivas ao abrigo da Lei da Ordem Pública “para evitar distúrbios ou perturbações graves”.
Na véspera da marcha, na sexta-feira, Robinson, cujo verdadeiro nome é Stephen Yaxley-Lennon, foi detido por desrespeitar uma sentença anterior, que o condenou por difamar um jovem refugiado, e na segunda-feira vai ser presente a tribunal.
Em 2018, este ativista atraiu milhares de pessoas a Londres, protesto que resultou em cinco polícias feridos e várias detenções.
Em 27 de julho desde ano, liderou uma marcha em Londres para “unir o reino” que terá atraído mais de 20 mil pessoas, dessa vez sem grandes incidentes.
Robinson não esteve diretamente envolvido nos motins de julho e agosto que abalaram o país, mas tem criticado a resposta firme da polícia e do sistema judicial por prender e condenar pessoas que alegadamente só participaram em protestos de forma pacífica.
O homicídio de três meninas de seis, sete e nove anos, uma delas lusodescendente, em Southport, em 29 de julho, desencadeou atos de violência e tumultos em dezenas de localidades em todo o Reino Unido.
Ações de desinformação nas redes sociais alegando que o autor era um imigrante ilegal muçulmano levou centenas de pessoas às ruas nos dias seguintes, mobilizadas por grupos de extrema-direita.
Durante vários dias, esses grupos entoaram cânticos racistas, danificaram edifícios, incendiaram veículos, pilharam lojas, quase incendiaram um hotel que aloja refugiados e feriram agentes de polícia com tijolos e outros objetos.
A 07 de agosto, estima-se que cerca de 15.000 pessoas participaram em contraprotestos antirracismo em todo o Reino Unido, o que levou ao fim dos motins que elegeram como alvo muçulmanos, requerentes de asilo e outras minorias étnicas.
Estes foram considerados os piores incidentes de violência racista no país nas últimas décadas e os mais graves desde 2011, abrangendo uma área geográfica mais vasta.
No entanto, terão mobilizado menos do que as 20.000 que se estima terem participado nos motins de agosto de 2011 desencadeados pela morte de Mark Duggan, um homem negro, durante uma operação policial em Londres.
O que diz o relatório “Depois dos Motins”
Co-autor de um relatório sobre os tumultos deste ano, o diretor do centro de estudos British Future, Sunder Katwala, disse à Agência Lusa que este tipo de fenómenos é recorrente porque existem pessoas que se aproveitam.
“Os homicídios em Southport foram um evento desencadeador de algo que pode ser desencadeado. Há grupos ativos de pessoas que procuram esses eventos e há grupos mais amplos de pessoas que podem reagir a eles por interesse próprio”, afirmou.
“A razão e o momento em que estes protestos atraem multidões dependerá da capacidade das pessoas se mobilizarem e de dizerem que está a acontecer uma coisa importante”, acrescentou.
A maioria dos protestos no verão teve uma participação reduzida, embora alguns tenham atraído várias centenas de pessoas.
O relatório “Depois dos Motins” identificou os autores dos tumultos como um grupo que misturou desordeiros, negacionistas da covid-19 e das alterações climáticas com simpatizantes da extrema-direita.
Embora os autores reconheçam pressões sobre as escolas e os serviços de saúde e problemas causados pela concentração de requerentes de asilo em algumas regiões, rejeitam que isto justifique violência e racismo.
O relatório faz uma série de recomendações e Katwala espera que mais medidas sejam tomadas para promover a coesão social a longo prazo, depois de o executivo britânico ter sido atribuído financiamento a organizações de zonas afetadas pelos motins.
“Penso que os partidos principais e o sistema político devem responder às preocupações legítimas e apresentar soluções, o que não significa dar a esta minoria ruidosa o que ela quer mas dar-lhe uma voz no debate político”, defendeu Sunder Katwala.
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