"Portuguesas e portugueses, sou candidato a presidente do Partido Social Democrata para ser primeiro-ministro de Portugal", anunciou Montenegro, a partir da sede nacional do PSD, em Lisboa.

"Assumo esta missão com sentido de responsabilidade cívica e com inequívoca humildade democrática", continuou, adiantando que "esta candidatura resulta de uma ponderada reflexão e de uma inabalável convicção" de que é capaz de "unir o PSD e abri-lo à sociedade".

"Infelizmente, nos últimos anos, o PSD tem estado demasiado fechado em si próprio. Um partido com a tradição, a história, com a missão e com a ambição do PSD só pode sobreviver e prosperar se souber atrair o melhor talento da nossa sociedade. É essencial recuperar essa capacidade e recuperar a ideia de um PSD reformista por natureza e dinâmico por vocação", defendeu.

Antes de confirmar a sua candidatura, Montenegro defendeu que “é chegada a hora de abrir um novo ciclo político, de renovação e abertura, de ambição e de esperança”, dizendo que com o socialismo “Portugal está a caminho da cauda da Europa”.

Montenegro sublinhou que o partido "tem de se modernizar" e de "saber comunicar com as pessoas". "A dispersão de votos no espaço da centro-direita mostra que há lugar para novos discursos e renovadas narrativas. Esse espaço é por natureza o espaço do PSD" acrescentou, frisando que o PSD "é o incumbente do espaço não-socialista e tem de voltar a ser a casa mãe de todas as tendências não-socialistas".

O candidato advogou que os sociais democratas têm de apelar ao eleitorado jovem e mostrar aos jovens "que este partido também é deles". "E dizer-lhes que no futuro seremos aquilo que eles quiserem", completou.

“Portugal precisa da nossa ação, reclama uma oposição determinada e uma alternativa corajosa”, disse, na apresentação da sua candidatura, com o ‘slogan’ “Acreditar”, com a letra T substituído pela tradicional seta laranja do PSD.

Na sua intervenção, de cerca de vinte minutos, Montenegro disse não se assustar com a perspetiva de uma longa travessia na oposição.

“Não nos assustam maiorias absolutas nem mandatos longos. Pelo contrário, encaramos isso como um desafio e um incentivo para nos organizarmos melhor, para sermos responsáveis e mais criativos”, disse.

Num discurso com muitas críticas à governação socialista, o antigo deputado defendeu que Portugal precisa “mais do que nunca de uma oposição atenta e implacável com os desvios” do executivo e “pronta a governar a qualquer momento”.

“Como muito bem lembrou o Presidente da República, um cenário de eleições antecipadas será inevitável caso o primeiro-ministro ceda à sua ambição pessoal e europeísta”, alertou.

Entre as “novas causas” que pretende que o PSD lidere estão as alterações climáticas e a descarbonização da economia, as novas tecnologias e a inteligência artificial.

“A transição digital, energética e climática deve ser objeto de um pacto nacional que envolva os órgãos de soberania, os parceiros sociais e a academia. O poder político tem obrigação de construir uma estratégia que subsista às mudanças de Governo”, afirmou.

Entre os temas de sempre do PSD, Montenegro defendeu que o partido tem de insistir numa reforma fiscal que torne o sistema “mais simples e menos asfixiante” e que assegure a redução de impostos, para aumentar a competitividade da economia

Conciliação da vida familiar com a profissional, remoção de obstáculos à natalidade e incentivo ao regresso dos emigrantes foram outras das áreas eleitas como prioritárias pelo candidato, que voltou a um tema que já tinha defendido no último Congresso do PSD.

“No campo demográfico, Portugal precisa de um plano nacional de recrutamento, acolhimento e integração de imigrantes”, afirmou, considerando que este é essencial para a “competitividade da economia, sustentabilidade da Segurança Social e equilíbrio territorial”.

Luís Montenegro disse ainda querer o PSD a liderar a agenda do trabalho digno, “que valorize salários, proteja a maternidade e assegure a igualdade de género”, e a propor um plano educativo que adeque a formação às necessidades do mercado, com o Estado a “garantir o elevador social e a prevalência do mérito”

“Quero o PSD a fazer jus às políticas de envelhecimento ativo e de proteção das pensões. Nenhuma medida na história de Portugal valorizou tanto as pensões como a criação do 14.º mês nos governos do Professor Cavaco Silva”, destacou.

Na saúde, assegurou que o seu PSD não terá “complexos ideológicos” de defender o setor privado e social, mas “a pensar nas pessoas e não nos proprietários destes serviços”.

Uma administração pública “eficiente e atrativa para o talento” e uma justiça “célere e acessível para todos e que não dê tréguas à corrupção” foram outros dos objetivos que deixou nesta apresentação.

“Acredito num Estado e num Governo que não manda nas pessoas, mas que dá a cada um os instrumentos que a habilitam a alcançar o seu projeto de felicidade, um Estado garantístico e não um Estado caritativo”, afirmou.

Marcaram presença a militante ‘número dois’ do partido, Conceição Monteiro, e a antiga presidente da Assembleia da República Assunção Esteves.

O atual e anterior diretor de campanha (em 2020), Carlos Coelho e Pedro Alves, o atual e anterior coordenadores da moção, Joaquim Sarmento e Pedro Duarte, estiveram também na apresentação, tal como outros apoiantes como a antiga líder da JSD Margarida Balseiro Lopes, o antigo líder parlamentar Hugo Soares, António Leitão Amaro ou Pedro Reis.

Na semana passada, em 29 de março, no dia em que arrancou a XV legislatura na Assembleia da República, o antigo deputado Luís Montenegro confirmou à Lusa que seria candidato a presidente do PSD.

“Após algum tempo de reflexão pessoal e política, tomei a decisão de me candidatar a presidente do PSD”, anunciou, dizendo ter tomado a decisão depois de “escutar muitos militantes, autarcas e cidadãos e após ter recebido incentivos e sugestões vindos de dentro e de fora do PSD”.

Desde então, foi noticiado que o seu diretor de campanha será o ex-eurodeputado Carlos Coelho e que Joaquim Miranda Sarmento, atual dirigente de Rui Rio, irá coordenar a sua moção de estratégia global.

Joaquim Sarmento, economista e que se estreou como deputado na semana passada, é presidente do Conselho Estratégico Nacional (CEN) do PSD, vogal da Comissão Política e, por inerência, também da Comissão Permanente, o núcleo mais restrito da direção.

Nos últimos dias, foi também conhecido o apoio da eurodeputada e presidente do Instituto Sá Carneiro, Maria da Graça Carvalho, a Luís Montenegro.

Esta será a segunda vez que Luís Montenegro se candidata à liderança do PSD, depois de ter disputado a presidência do partido em janeiro de 2020, perdendo para o atual presidente, Rui Rio.

Nessa ocasião, obrigou Rio a uma inédita segunda volta no PSD (Miguel Pinto Luz foi o terceiro candidato que se ficou pela primeira volta, com cerca de 9,5% dos votos) e conseguiu 47% dos votos.

Luís Montenegro é, por enquanto, o único candidato assumido à presidência do PSD, mas o antigo primeiro vice-presidente Jorge Moreira da Silva também deverá entrar na corrida, tendo marcado uma declaração pública para 14 de abril, depois de concluir um trabalho anual na OCDE, organização da qual é diretor da Cooperação para o Desenvolvimento.

Os dois vão marcar presença, na sexta-feira, numa exposição de homenagem ao histórico assessor de imprensa, Zeca Mendonça, que morreu em 2019, a par de outras figuras como o Presidente da República e antigo líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, ou o fundador do partido Francisco Pinto Balsemão.

O atual presidente do PSD, que ocupa o cargo desde janeiro de 2018, já anunciou que deixará a liderança do partido depois da derrota nas legislativas de 30 de janeiro. As eleições diretas para escolher o seu sucessor foram marcadas em Conselho Nacional para 28 de maio e o Congresso vai realizar-se entre 01 e 03 de julho, no Porto.

O prazo limite para a apresentação de candidaturas à liderança do PSD é o dia 16 de maio, e estas têm, como habitualmente, de ser subscritas por um mínimo de 1.500 militantes e de ser acompanhadas de uma proposta de estratégia global e do orçamento de campanha.

Fora da corrida foram-se colocando nomes como Paulo Rangel, Carlos Moedas, Poiares Maduro, Ribau Esteves e Miguel Pinto Luz.