O antigo líder parlamentar chegou à liderança do PSD à segunda tentativa – tinha tentado e perdido em 2020 contra Rui Rio – em maio de 2023, derrotando Jorge Moreira da Silva por mais de 70% dos votos.
A inesperada demissão do então primeiro-ministro António Costa, em novembro de 2023 na sequência de um processo judicial em que o seu nome foi envolvido, levou-o a disputar legislativas dois anos mais cedo do que o previsto, e numa altura em que alguns já admitiam a sua substituição após as europeias de junho por Pedro Passos Coelho.
Nas eleições de 10 de março, Montenegro reedita a Aliança Democrática de 1979 com o CDS-PP e com o PPM, conseguindo uma vitória tangencial sobre o PS.
Numa eleição em que o Chega elegeu 50 deputados, o líder do PSD manteve o “não é não” ao partido liderado por André Ventura, com quem falha logo o entendimento para aprovar o presidente da Assembleia da República.
Foi um acordo com o PS que permitiu a eleição do social-democrata José Pedro Aguiar-Branco por meia legislatura e, no Orçamento do Estado para 2025, depois de conversas iniciais com todos os partidos (algumas até discretas com Chega e IL), acaba por ser com os socialistas que as negociações foram mais longe.
Apesar de não ter havido acordo total nos encontros entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, o PS acabou por abster-se e viabilizar o documento, invocando o pouco tempo passado sobre as eleições e a improbabilidade de novo sufrágio resultar numa clarificação.
Com esta aprovação, o Governo minoritário PSD/CDS-PP ganhou um fôlego de mais de um ano: mesmo que a próxima proposta orçamental seja rejeitada, o atual Presidente da República estará impedido de dissolver o parlamento e convocar eleições nos últimos seis meses de mandato (a partir de 09 de setembro).
Só o novo chefe de Estado, que tomará posse em março de 2026, o poderá fazer, o que atira eventuais legislativas antecipadas para nunca antes de maio/junho.
Nos oito meses de governação, os principais problemas registaram-se na Administração Interna, com os incêndios de setembro nas regiões Norte e Centro de Portugal a resultarem na morte de nove pessoas, e na Saúde, com inquéritos ainda em curso sobre a morte de 11 pessoas alegadamente associadas a falhas no atendimento do Instituto Nacional de Emergência Médica durante uma greve.
Também ainda sob investigação está a morte de Odair Moniz, um cidadão cabo-verdiano de 43 anos baleado por um agente da PSP na madrugada de 21 de outubro no Bairro da Cova da Moura, que gerou uma vaga de distúrbios na Grande Lisboa.
Luís Montenegro tem mantido a confiança política nas ministras Ana Paula Martins e Margarida Blasco e, apesar de prometer o apuramento de responsabilidades políticas, já defendeu que tal nem sempre tem de significar demissões.
O primeiro-ministro tem conseguido evitar fugas de informações nos momentos cruciais, deu apenas uma entrevista à comunicação social, privilegiando as intervenções formais, em que dá a cara por áreas setoriais, como a segurança, com uma conferência de imprensa às 20:00 a partir da residência oficial, que lhe valeu críticas unânimes da oposição.
Sem vozes críticas a perturbarem a sua liderança no PSD - mesmo depois de perder as europeias -, Montenegro terá no próximo ano de enfrentar o desafio das autárquicas, que já assumiu querer vencer, e, pouco depois, as presidenciais, onde se comprometeu a apoiar a candidatura de um militante do PSD.
Afastado de Passos Coelho, Montenegro aponta Cavaco Silva como “referência política maior” e acredita que este governo minoritário pode ser o início do regresso do PSD a anos no poder.
O presidente do PSD e primeiro-ministro foi eleito personalidade nacional de 2024 pelos jornalistas da agência Lusa.
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