As primeiras declarações de Luiz Inácio Lula da Silva durante a sua visita oficial a Angola foram feitas no Palácio Presidencial, em Luanda, onde foi condecorado com a Grande Ordem Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, distinguindo também o seu homólogo, João Lourenço, com o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.

No terceiro momento da visita após a deposição de uma coroa de flores no sarcófago de Antonio Agostinho Neto e um encontro com João Lourenço no Palácio Presidencial, Lula da Silva mostrou-se honrado com a condecoração e salientou que não está ainda na hora de parar.

“Quando o ser humano chega na idade que eu estou [77 anos] muita gente pensa que está na hora de parar e quando eu recebo uma Ordem, a mais importante de Angola, que leva o nome de um símbolo desse país, da pessoa que morreu antes do tempo, eu vou carregar essa medalha com o compromisso de que quem tem uma causa não pode parar de lutar”, salientou o chefe de Estado brasileiro, “assumindo o compromisso de tentar fazer uma campanha mundial contra a desigualdade”.

Lula da Silva afirmou que a desigualdade se encontra em muitos lugares, em termos de raça, género, idade, educação ou saúde e aproveitou para elogiar uma lei recente do seu executivo, que obriga a pagar salário igual a mulheres e homens que exercem a mesma função.

Apelou ainda à indignação dos que podem comer e estudar face aos que não podem, para que “essa luta” dê certo e se crie a consciência de que o mundo produz alimentos suficientes para sustentar “biliões de humanos”.

“Não tem sentido a quantidade de crianças que vão dormir toda a noite sem um copo de leite para tomar, porque não tem dinheiro”, lamentou, criticando o aumento da concentração de riqueza em “1% dos mais ricos”.

“Espero que com essa medalha no peito, alimentado pelo pensamento revolucionário de Agostinho Neto, possa vencer no intento de convencer a humanidade a se indignar contra a desigualdade”, disse, na sala onde foi condecorado no Palácio Presidencial, perante o Presidente angolano e uma vasta comitiva de responsáveis brasileiros.

Lula da Silva disse que falou sobre a luta contra a pobreza com o Papa Francisco, exortando a que seja eleita como “prioridade” mundial.

Falou também sobre a desigualdade no tratamento da mulher, que ainda não se consegue expressar na política “como maioria que é” e criticou a desigualdade “mais grave” da mulher ser tratada como “objeto de cama e mesa” no século XXI.

“É preciso que os homens amadureçam e a Humanidade amadureça”, destacou.

João Lourenço mostrou-se igualmente sensibilizado com o gesto do Presidente brasileiro lembrando a luta e os sacrifícios de Angola pela liberdade dos povos, independência e soberania das outras nações.

“Foi imenso o sacrifício que consentimos, mas resta-nos a satisfação de termos contribuído para a afirmação da África do Sul e Namíbia no concerto das nações como povos livres, realçou, apontando os anseio dos africanos pela liberdade “que são, no fundo, os mesmos pelos quais pugnavam os africanos escravizados no passado”.