“O mar andou vivo aqui dentro”, contou à agência Lusa Maria Luísa Duarte, de 71 anos, apontando para uma pedra de alguns quilos que o mar atirou para a esplanada de casa, paredes meias com o oceano, uma pequena edificação nas traseiras da habitação.
Antes, Maria Luísa, que pretendia cumprir o ritual diário de tomar banho no mar, foi à Barca, a sua piscina de todo o ano, constatando que “estava mansinho”, mas não tardou muito para ver que uma onda quase atingia a viatura conduzida pelo marido quando ele seguia avenida fora.
“Depois foram pedras, água, lama, pedras que voaram do mar”, disse, garantindo que, “com bom tempo”, como estava o dia, “nunca tinha visto ondas tão grandes”.
Na última segunda-feira, ondas de 13 metros atingiram a Madalena, provocando danos em várias estruturas, incluindo o molhe de proteção do porto.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera esclareceu que a situação “não estava prevista” e foi “invulgar”, explicando que, “normalmente, os modelos que servem para definir os avisos [meteorológicos] sobre-estimam a altura das ondas; neste caso, subestimaram”.
“O mar esteve vivo aqui. Andou de volta de mim”, declarou Elisabete Silva, funcionária da Associação de Armadores de Pesca Artesanal do Pico. À Lusa, a funcionária, de 48 anos, relatou que não conseguiu sair do escritório da associação, porque as portas só abrem para fora e a força da água impedia a sua abertura.
“A preocupação foi salvar o equipamento informático e documentação da associação”, declarou, para acrescentar que a loja, ao lado do escritório, não foi poupada pelo “mar revolto”.
As ondas também não pouparam as casas de apresto, 24 no total. Na de Paulo Goulart, pescador de 40 anos, contam-se dois mil euros de prejuízo, levantamento que entregou na associação na sexta-feira, mas sem esperança de ser ressarcido.
“O Governo [Regional] não se chega à frente. Se fosse em São Miguel era diferente”, antevê o pescador, lamentando que não existam seguros para fazer face a situações como esta.
O presidente da associação, José António Fernandes, 58 anos, acredita que o executivo açoriano não vai abandonar os pescadores e armadores. “Temos ali o escritório há nove anos e houve galgamentos no passado, mas nada assim. O que foi mais surpreendente foi a força e a rapidez. Era incrível, eram ondas seguidas e com muita energia”, declarou José António Fernandes.
Da sabedoria dos seus 84 anos, 30 dos quais na pesca do atum, Augusto Medeiros avisa que fenómenos como o de segunda-feira de Carnaval “acontecem de anos a anos”.
E, nos anos em que isto acontece, como agora, “o mar levanta-se”, explicou Augusto Medeiros, concretizando que a estrada se transforma numa poça e os cerrados se enchem de água.
“Estava muito mau”, assumiu, para acrescentar que “já viu pior”.
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