No aeroporto há cartazes do Burguer King, Subway, Conforama. Não se ouve falar em eleições, não se ouve o nome de Miguel Albuquerque ou de Paulo Cafôfo. Ouve-se pouco falar português. Mas à medida que nos metemos a caminho do Funchal, os cartazes vão aparecendo em catadupa, da mesma maneira que o verão cresce do monte cinzento até ao oceano azul.
PDR, CHEGA, PNR, BE, PS, PAN, Aliança, Partido da Terra-MPT, PCTP/MRPP, PSD, Iniciativa Liberal, PTP, PURP, CDS, CDU, JPP e RIR. Quando chegamos à marginal da capital madeirense já os vimos todos, a maioria mais do que uma vez. As ruas 5 de outubro e 31 de janeiro, que acompanham a Ribeira de Santa Luzia até ao mar, são contornadas por cartazes socialistas com o rosto de Cafôfo e em cada largo é erguida uma palete de cores, do laranja social-democrata ao azul clarinho da Iniciativa Liberal.
Pela rua veem-se grupos de partidos em campanha. Junto à Câmara Municipal do Funchal, passam por nós três membros do PURP, um dos quais o cabeça de lista a esta eleição, envergando uma bandeira. Perto do tribunal, um autocarro com a cara do cabeça de lista do PS impressa enche-se de militantes para um comício. Já buzinam antes do veículo arrancar. Na marginal passeia-se o MPT. O carro do Bloco de Esquerda passa numa avenida a entoar a música Bella Ciao.
Os cartazes que pintam a cidade são ignorados pelos turistas, alheios a uma região que se aproxima de um dia que pode ser histórico.
O PS pede coragem para mudar, o PSD enumera aquilo que conseguiu nos últimos quatro anos e diz que a região está no rumo certo. O CDS, mais vago, diz que este é o tempo de mudança.
A política está em todo o lado e em lado nenhum. O Funchal está repleto de logótipos e slogans, mas não se ouvem gritos. Distribuem-se folhetos e canetas com pouco aparato. Ouvem-se as mensagens e músicas gravadas dos quadros e algumas buzinadelas da cor da bandeira que uma qualquer pessoa transporta rua acima.
Aqui é tudo para cima e é bonito como o Funchal é à noite, centro de um anfiteatro de luzes que pintam a encosta.
Só às sete da tarde é que soa a política-política. É a voz de Alberto João Jardim. “Fizemos estes 40 anos de luta para entregarmos isto aos comunistas? Haja juízo!”, entoa o histórico social-democrata.
Ouve-se uma música, erguem-se as bandeiras. Pára a música, encolhem-se as bandeiras.
“Há ainda pessoas que se dizem indecisas, que dizem que querem correr riscos, que vão buscar questões internas, ultrapassadas, do PSD. Mas indecisão em relação a quê? O PS declarou a semana passada que estava disposto a trazer os comunistas do PCP, BE e JPP para o ajudarem a governar”, grita Alberto João Jardim.
Repete-se a música e as bandeiras até o antigo presidente sair e entrar Miguel Albuquerque que, embalado pelo discurso contra o governo socialista da República, aqui assim apelidado pelos sociais-democratas, aproveita o ritmo da música e das bandeiras para levar um comício a apoteose.
“O que seria de nós [madeirenses] se voltássemos para a bandalhice de 1974 e 1975, o que sofremos na carne muitos de nós, o que é o totalitarismo comunista e o que é violência comunista?”, questiona.
As frases repetem-se até que o comício explode em apoteose. As pessoas vão saindo lentamente da Praça do Povo. Param para uma cerveja, para um bolo do caco. Albuquerque pousa para imprensa, fala à imprensa, pousa para as fotos, fala com os militantes e simpatizantes.
Parecia que estava ali toda Madeira naquela plateia.
Entramos num táxi e o motorista diz que este foi dos mais fraquinhos que já viu.
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