Em entrevista aos jornalistas no final de um dos debates das Conferências do Estoril, Di Pietro acusou as modernas democracias de "hipocrisia" por não verem e enfrentarem o problema dos paraísos fiscais, questionando porque razão não se faz uma lei ou norma internacional que "boicote comercial, industrial e financeiramente" as 'offshores' que ocultam dinheiro da criminalidade económica.

Quanto à Operação "Mãos Limpas" que agitou a Itália dos anos 90, Di Pietro garantiu que se tratou de uma "investigação judicial sem qualquer finalidade política", apesar de o terem acusado pessoalmente de ter tido esse objetivo.

"Uma investigação não tem fim. Da operação 'Mãos Limpas' surgiram muitas outras investigações", acentuou.

Numa altura em que se fala que a operação "Mãos Limpas" serviu de exemplo e inspiração a investigações efetuadas em outros países, como o caso Lava Jato no Brasil, Di Pietro realçou que "não se atreve a dar conselhos a colegas de outro país sobre o que fazer".

Notou contudo que, à semelhança de Itália, no Brasil e em Portugal também se está a descobrir a ocultação de proventos da corrupção através das 'offshores'.

Na sua opinião, "todos os dias têm que haver 'Mãos Limpas', a luta entre polícias e ladrões".

Di Pietro enfatizou a importância de uma informação livre, independente e transparente nos Estados modernos que lutam contra a corrupção, indicando que a "maior responsabilidade" dos jornalistas é "contar a verdade" e não fazer os cidadãos acreditarem em coisas diferentes.

"O juiz da democracia é a informação, o juiz da lei é o magistrado", realçou Di Pietro, que desmistificou o perigo de uma justiça mediatizada.

Acerca da "delação premiada" no Brasil, sistema que leva alguns arguidos a denunciar outros criminosos e corruptos, Di Pietro explicou que a operação "Mãos Limpas" não utilizou esse mecanismo no combate à corrupção política e empresarial, ao contrário do que aconteceu na luta contra o terrorismo em Itália nos anos 80 e na luta anti máfia.