O programa envolve a Universidade Paris Nanterre, onde tudo começou, em 22 de março de 1968, com a ocupação do ‘campus’ por uma centena de estudantes, o Théâtre des Amandiers, nesta localidade da área urbana de Paris, Le Palais de Tokyo, o “templo da arte contemporânea”, a Cidade da Arquitetura e do Património, a Escola Superior de Belas-Artes, os Arquivos Nacionais, a Biblioteca Nacional de França, a Cinemateca Francesa e o Centro Georges Pompidou, “instituição cultural que o maio de 1968 prefigura”, apresentado como “centro nevrálgico” da celebração.
As nove instituições têm por objetivo ir à origem do movimento político e social, que partiu das universidades e chegou ao operariado, analisar o seu legado e a sua vigência na atualidade, sem cedências à nostalgia, como declarou o presidente do Centro Pompidou, Serge Lasvignes, na apresentação do programa, na passada quinta-feira.
As entidades envolvidas querem dar uma visão global do que foi o Maio de 1968, do papel dos diferentes setores, do poder, dos estudantes e dos trabalhadores, que protagonizaram o protesto que mobilizou mais de sete milhões de pessoas, levou à greve geral e à dissolução da Assembleia Nacional, no final de junho, desse ano.
O presidente da Universidade de Paris Nanterre, Jean-François Balaudé, disse que a instituição aposta no papel dos seus estudantes, à semelhança do que aconteceu na origem do movimento, e declara de novo “a imaginação ao poder”, com um ano temático, “1968-2018 Prop’osons! [Proponhamos!]”.
A universidade inaugura as comemorações com a “Noite das Ideias”, a 25 de janeiro, e prossegue-as com a “Primavera das utopias e das liberdades” e com as “Deambulações 68″, para “reinventar o espírito”, num “ímpeto de apropriação” do espírito de maio.
Artistas urbanos vão transfigurar o ‘campus’ e ocupar também Le Palais de Tokyo, na capital, onde a ‘graffiter’ espanhola Escif irá intervencionar a fachada, retomando “insultos” e “declarações de amor”, do Maio de 68, quando era “proibido proibir”.
No Théâtre des Amandiers, em Nanterre, decorrerá, de abril a maio, o programa “Mundos possíveis”, criações artísticas destinadas a “recuperar os territórios utópicos”, em colaboração com o Centro Cultural Suíço de Paris (Festival Extra Ball), a Universidade Paris Nanterre (Global 68) e o Centro Nacional das Artes Plásticas (com filmes de artistas).
Em paralelo, o espaço Terraço das Artes, em Nanterre, apresentará a exposição coletiva “1968/2018, das metamorfoses à obra”, que contém trabalhos de Henri Cueco e Jean-Luc Godard, entre outros.
Na Cidade da Arquitetura e do Património estará patente, de 16 de maio a 17 de setembro, a exposição “Maio 68, a arquitetura também”, enquanto nas Belas-Artes, a partir de 21 de fevereiro, são reunidas pinturas, esculturas, livros, jornais e revistas da época, consultáveis, a que se juntam cartazes originais, produzidos pelo Atelier Popular, que mobilizou artistas como Eduardo Arroyo, Gilles Aillaud, Olivier Mosset ou Claude Rutault.
A Cinemateca Francesa vai dedicar um ciclo ao realizador Chris Marker (1921-2012), também escritor, fotógrafo e documentarista, nome da ‘Nouvelle Vague’ e da corrente ‘Rive Gauche’, que desenvolveu a ligação do cinema a outras artes.
O ciclo decorrerá de 03 de maio a 29 de julho. Antes, de 28 de março a 15 de abril, a Cinemateca recria a primeira Quinzena dos Realizadores, secção paralela do festival de Cannes, criada em 1969 pela Sociedade dos Realizadores de Cinema, com origem na contestação do ano anterior.
A primeira Quinzena reunir mais de 100 curtas e longas-metragens de novos realizadores, escolhidos em oposição à corrente institucional, com filmes como “Barravento”, de Glauber Rocha, “Calcutá”, de Louis Malle, “Duo Pour Cannibales”, de Susan Sontag, “Partner”, de Bernardo Bertolucci, “Une Femme Douce”, de Robert Bresson, “Paulina s’en Va”, de André Téchiné, e “O leito da virgem”, de Philippe Garrel, que vão passar de novo na Cinemateca Francesa.
A exposição “68, os arquivos do poder”, nos Arquivos Nacionais, de 03 de maio a 22 de setembro, comissariada pelo historiador Philippe Artières, mostra a história “do outro lado das barricadas”, através de centenas de documentos e de encontros com protagonistas da época, como a histórica militante comunista norte-americana Angela Davis.
A Biblioteca Nacional de França, entre outras iniciativas, recorda os “Ícones de Maio de 68″, numa exposição de fotografia, de 17 de abril a 26 de agosto, com “imagens que têm história”, recordando Daniel Cohn-Bendit, Jean-Paul Sartre, Godard, ou o instantâneo de Jean-Pierre Ray “Marianne 68″, que a Life Magazine celebrizaria.
O Centro Pompidou, “epicentro das comemorações”, vai demonstrar “a atualidade da revolta” ao longo do ano, e o peso de 1968, na “cultura visual” de França, através de exposições, filmes, conferências, debates e encontros.
A ocupação permanente “Maio de 68. Assembleia geral”, de 28 de abril a 20 de maio, com debates, projeções e oficinas de trabalho, é um dos “pontos nevrálgicos” das comemorações, que o Centro Pompidou inicia já a 01 de fevereiro, com o seminário de seis semanas “Mai 68 en théorie”, que se estenderá até abril.
O fotojornalista do maio de 68 Gilles Caron, desaparecido no Camboja em 1970, é recordado pela Câmara de Paris com a mostra “A coreografia da revolta”, que segue as suas reportagens em zonas de confronto, da Irlanda do Norte às ruas de Paris
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