Nuno Farelo era treinador no HC Meshkov e deixou a cidade de Brest, junto à fronteira polaca, a 01 de março, cinco dias depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter lançado uma ofensiva militar na Ucrânia, partindo também de território bielorrusso.

“As pessoas diziam-me que esta guerra não faz sentido, mas não o dizem publicamente”, disse o treinador que estava num país dirigido pelo Presidente Lukashenko, acusado de abusos de direitos humanos e de perseguir opositores.

Nuno Farelo recorda, em particular um jovem que fazia parte do seu plantel e estava a prestar serviço militar obrigatório: “Há duas ou três semanas ele deixou de aparecer; provavelmente estava nas manobras conjuntas com a Rússia. Neste momento, caso haja uma invasão da Ucrânia [pela Bielorrússia], ele estará lá na frente”.

“Isso entristece-me um bocado, porque nós tivemos a possibilidade de abandonar o país, mas eles [os bielorrussos] não têm essa possibilidade”, lamentou o português.

Todos os estrangeiros do HC Meshkov Brest – atual campeão bielorrusso, excluído da Liga dos Campeões europeia de andebol – seguiram o conselho das embaixadas e saíram da Bielorrússia “o mais depressa possível”.

Isto apesar de em Brest “não haver, mesmo na vida quotidiana, qualquer sentimento de perigo ou de estarmos em guerra”.

A Bielorrússia foi abalada por meses de protestos desencadeados pela reeleição “fraudulenta” do Presidente Aleksandr Lukashenko em 2020, disse à Lusa a bielorrussa Tatsiana Kulakevich.

As autoridades responderam com uma campanha “brutal” de repressão, com milhares de pessoas espancadas e “até violadas” pela polícia, disse a investigadora da Universidade da Florida do Sul.

“Para saber como é que os bielorrussos encaram a invasão [russa da Ucrânia], precisaríamos de estudos de opinião, algo que infelizmente não temos”, disse, por seu turno, à Lusa o analista político bielorrusso Artyom Shraibman.

Nuno Farelo não tem dúvidas que “a maioria dos bielorrussos é contra esta invasão, embora as pessoas não estejam propriamente a fazer manifestações contra”.

Milhares de bielorrussos saíram às ruas a 27 de fevereiro, não apenas em protesto contra o referendo constitucional que permitiu a instalação de armas nucleares russas no país, mas também “para exprimir solidariedade com a Ucrânia”, disse Tatsiana Kulakevich.

Cerca de 800 pessoas foram detidas pela polícia, em protestos que “demonstram que o povo bielorrusso não apoia a guerra”, defendeu a investigadora.

Tal como a Rússia, a Bielorrússia foi alvo de sanções internacionais, que incluem os bancos bielorrussos.

Para Nuno Farelo o impacto foi limitado: “tenho lá algum dinheiro numa conta bancária que neste momento não posso transferir, mas não é uma grande quantia”.

Mas para os bielorrussos, as sanções “geraram e geram preocupação”, sobretudo devido à “grande desvalorização” da moeda local, disse o português.

O rublo bielorrusso valia hoje 0,28 euros, tendo-se desvalorizado mais de 15% desde o início da ofensiva russa na Ucrânia.

“As pessoas para se salvaguardarem estão a tentar trocar por euros ou mesmo dólares, mas há uma escassez de moeda estrangeira”, explicou Nuno Farelo.

“A economia bielorrussa já está a sofrer e a situação só vai piorar”, lamentou Tatsiana Kulakevich.

A investigadora disse acreditar “que é do interesse de Putin que a Bielorrússia esteja fraca economicamente, porque assim é mais fácil de controlar”.

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