A missiva é assinada por 258 jornalistas, de meios como TSF, Lusa, Jornal de Noticias, Rádio Renascença, Sábado, Público, Porto Canal, SIC Notícias, Setenta e Quatro, Diário de Notícias, Expresso, 7Margens, Fumaça, A Voz do Operário, Açoriano Oriental, Antena 1, Renascença, Maisfutebol, Gerador, Correio da Manhã, TVI/CNN e também por vários ‘freelancers’.

“Baixos salários e precariedade impedem-nos de ter uma vida digna. É tempo de exigir condições justas para fazermos jornalismo de qualidade. Juntamo-nos ao apelo da greve dos jornalistas. Parem connosco”, lê-se no documento.

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) agendou uma greve geral para 14 de março, contra os baixos salários, precariedade e degradação das condições de trabalho do setor.

Esta quinta-feira, os jornalistas vão também concentrar-se em Coimbra, Porto, Ponta Delgada e Lisboa.

Na carta, os jornalistas referem não aguentar os baixos salários, a precariedade, o horário de trabalho, “a pressão para o imediatismo” e os ‘burnouts’ (esgotamentos).

“O jornalismo em Portugal tem-se baseado numa política laboral indigna para manter o fluxo de notícias. Não temos perspetivas pessoais e profissionais. Ficámos calados durante demasiado tempo, mas chegou o momento de rompermos o silêncio”, assinalou.

Segundo o inquérito às condições de vida e trabalho dos jornalistas em Portugal (2023), citado no documento, cerca de um terço do setor recebe, mensalmente, entre 701 e 1.000 euros líquidos, 15% dizem ser alvo de assédio moral e quase metade tem níveis elevados de esgotamento.

Os jornalistas sublinharam ainda que uma redação precária “perde a capacidade de definir o seu critério editorial” e que sem a contratação de mais profissionais, há menos reportagens e investigação.

A isto soma-se a “constante exigência de híper produtividade”, que desvirtua o jornalismo.

“Não há democracia que sobreviva sustentada por precariedade, seja no jornalismo ou noutro setor. Não há democracia sem escrutínio dos poderes económicos e políticos, sem informação verificada, rigorosa e diversificada que ajude a tomar decisões informadas”, notaram.

Por outro lado, alertaram para o facto de as novas gerações serem obrigadas a sujeitar-se à precariedade, com empresas a pagar apenas o salário mínimo, só o subsídio de refeição ou nada.

Os jornalistas lembraram que, com as redações desfalcadas, os estagiários também não recebem a formação necessária, sendo, por vezes, utilizados como “mão-de-obra barata e permanentemente disponível”.

Estes profissionais defenderam ainda que em muitas regiões do país vivem-se “desertos noticiosos”, com mais de metade dos concelhos sem qualquer órgão de comunicação social ou na iminência de estar nesta situação.

Já os ‘freelancers’, que representam um terço dos jornalistas com carteira profissional no país, são esquecidos em debates e lutas sindicais.

Avençados ou à peça, os jornalistas ‘freelancers’ são os que se encontram numa situação mais precária, escrevendo “artigos à dúzia por semana” para pagarem as suas contas.

“Nós, jornalistas sem papel, queremos conquistar a nossa autonomia e construir uma vida digna, mas esses objetivos não estão ao nosso alcance. É tempo de parar e exigir condições para fazermos o jornalismo de qualidade, profundo e plural que consideramos necessário numa sociedade democrática”, concluíram.