Segundo dados da Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor divulgados a propósito do Dia Mundial da Poupança, que hoje se assinala, o número de pedidos de ajuda ao Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado (GAS) em todo o ano de 2017 tinha sido menor do que em 2016, mas entre janeiro e outubro deste ano já houve mais uma centena do que em período homólogo do ano passado.
“Registámos um aumento do número de pedidos de ajuda das famílias. Não é muito significativo face a 2017, mas a verdade é que se regista este aumento e a verdade é que no dia a dia verificamos que nos estão a chegar mais situações, tanto aqui em Lisboa como na região norte, no Porto”, disse à Lusa Natália Nunes, porta-voz do GAS.
Segundo a Deco, são já quase metade (47%) os casos em que o pedido de ajuda vem de um agregado familiar de apenas um elemento, pessoas divorciadas ou viúvas.
A responsável apontou ainda algumas alterações registadas pela Deco relativamente aos pedidos de ajuda recebidos, sobretudo as causas, ganhando agora terreno situações como pequenos investimentos mal sucedidos (6%), o apoio aos ascendentes (5%) e a passagem à reforma (2%).
“Se é verdade que o desemprego é tradicionalmente a principal causa, embora com menor peso face ao que se verificava em 2017 (30% das situações eram causadas pelo desemprego, neste momento são 20%), há outras causas a ganharem terreno, como a questão dos negócios e investimentos mal sucedidos (…), o apoio aos ascendentes (5%) e a passagem à reforma”, disse Natália Nunes.
Questionada pela Lusa, a porta-voz do GAS explicou que “estes pequenos investimentos são de pessoas que foram confrontadas com situações de desemprego e tomaram a iniciativa de criar o seu próprio posto de trabalho e, infelizmente, há situações que não têm corrido muito bem e que levam a que as famílias agora não tenham capacidade financeira de honrar os compromissos e nos tenham vindo pedir ajuda”.
“São já 6% das causas e começa a ser significativo”, sublinhou.
Natália Nunes frisa ainda uma outra alteração que a Deco tem notado nas famílias que lhe pedem ajuda e que tem que ver com a dimensão do agregado familiar.
“Nos últimos anos eram famílias de dois a três elementos, neste momento são agregados compostos por apenas um único elemento e representam já 74% das situações (pessoas divorciadas ou viúvas)”, afirmou.
Outra das alterações é o aumento da taxa de esforço que as prestações mensais representam no rendimento das famílias, que já tinha manifestado uma tendência crescente no ano passado — passando de 67% para 70% – e que este ano voltou a aumentar, chegando aos 72%.
“Isto significa que o peso das prestações de crédito no rendimento mensal das famílias está a aumentar e que no final do mês, em regra, falta dinheiro às famílias que nos pedem ajuda”.
Apesar dos dados negativos, a Deco realça um ponto positivo detetado no relatório, que mostra uma redução (de 55% para 49%) do crédito em incumprimento e uma subida (de 45% para 51%) do crédito regularizado.
Segundo Natália Nunes, isto “significa que as famílias estão a pedir ajuda numa fase em que ainda se consegue resolver a situação, apesar de muito deste crédito estar, de facto, na iminência de entrar em incumprimento”.
“Como nestes últimos tempos se tem falado tanto nas dificuldades das famílias e como há a ideia de que todas as famílias, de uma maneira ou de outra, têm sido confrontadas com algumas dificuldades, isso poderá ter contribuído para que se tenha retirado a carga negativa do facto de se pedir ajuda e isso tenha contribuído para que as famílias peçam ajuda numa fase prévia”, considera.
Os dados da Deco indicam que os pedidos de ajuda vêm sobretudo de pessoas do setor privado (43%), desempregadas (20%).
Dos pedidos de ajuda recebidos, a Deco acabou por abrir entre janeiro e outubro deste ano 2.077 processos de sobre-endividamento, um pouco mais do que em período homólogo do ano passado (2.001).
Sobre as causas do sobre-endividamento, a principal é o desemprego, que apesar de tudo baixou de 30,1% para 20%, seguido da deterioração das condições de trabalho (19%), da doença/incapacidade (15%) e da alteração do agregado familiar e o divórcio/separação (ambos com 10%).
As famílias acompanhadas pela Deco têm uma média de cinco créditos, o montante médio do crédito à habitação é de 85.000 euros, o montante médio dos créditos pessoais é 16.500 euros e o valor total dos cartões de crédito chega aos 7.500 euros.
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