A 4 de outubro de 2021, dia em que se celebra São Francisco de Assis, foi lançada oficialmente a primeira iniciativa dos Amigos do Convento, um projeto cívico de cariz cultural que nasceu para promover a valorização do património e ajudar a recuperar o Convento de São Francisco de Real, em Braga.

Nessa altura, o objetivo era "Pintar Francisco". Por outras palavras, encontrar mecenas que ajudassem a pagar um quadro de São Francisco de Assis, em óleo sobre tela (45x60cm), pintado pelo português Ruben Ferreira, em Londres, para ser oferecido à Paróquia de São Jerónimo de Real.

E para isso era preciso que pelo menos 5 mil pessoas contribuíssem com 0,50€ — e apenas com esse valor, para que ninguém ajudasse mais que ninguém a pagar os 2.500€.

Um ano depois, o projeto chega ao fim. Segundo a organização, esta iniciativa "contou com a participação de mais de 5.100 doadores de 74 municípios portugueses e 14 países além fronteiras, até da Austrália. Em Braga, onde tudo começou, os donativos chegaram de 57 das 62 freguesias".

"O que verdadeiramente nos preenche o espírito, mais até do que a de missão cumprida, é a sensação de termos participado em algo que a todos nos ultrapassa e que ficará para a história de Braga — e mesmo do país", explica Cláudia Sousa, cofundadora dos Amigos do Convento, ao SAPO24.

Quanto ao valor angariado, que superou o necessário para pagar a obra, mas em pouco, "vai servir para se fazer face a uma pequena parte das despesas que, durante mais de um ano e meio, se teve com a preparação, execução e com a conclusão da iniciativa".

Mesmo assim, o montante não deverá chegar. "Muita coisa caiu do céu, estamos certos, mas nem tudo. Teremos que 'dividir o mal pelas aldeias', como diz o povo, sendo que o que importa sublinhar é que começámos com zero e terminaremos com zero. Só assim, para nós, faz sentido", aponta Cláudia.

A sessão pública de apresentação da obra de arte tem lugar esta terça-feira, às 20h45, na Igreja de São Francisco. Na cerimónia, "será assinado e entregue à Paróquia de São Jerónimo de Real um documento onde constarão os nomes dos mais de cinco milhares de pessoas que para ela contribuíram com os 0,50€", de forma a "deixar para a história um testemunho contextualizado sobre a iniciativa".

Segundo os Amigos do Convento, "o projeto de enquadramento arquitetónico da pintura na Igreja de São Francisco, cuja execução está prevista em aço corten, foi elaborado pelo reconhecido atelier bracarense Carvalho Araújo".

Da obra constam vários pormenores, como é o caso de uma frase de São Francisco na parede — "É dando que se recebe" — e a gravação no chão da palavra "Continua-me", como mote ao que está por vir.

No esquisso divulgado pelo atelier, a explicação destas escolhas: "A imagem/quadro é o elemento visível, mais visível. Mas a mensagem tem de ser o centro da questão. Assim como a 'resposta'... sugestão".

Para a confundadora dos Amigos do Convento, este enquadramento permite "dignificar a obra de arte, fazendo do espaço a sua casa".

"O trabalho do arquiteto Carvalho Araújo, nestes casos particulares, tem esse inefável pendor: no mais simples traço encontrar a maior nobreza. Aliás, o esquisso que amavelmente nos preparou tem esse ADN nele vertido. Como a propósito gostamos de dizer: Não, não é um mero esquisso. É muito, muito mais do que isso. É traço de genialidade e compromisso, de poucos ao alcance", frisa.

Quanto ao futuro, Cláudia Sousa não hesita. "O futuro a Deus pertence — e a nós também", começa por dizer. "Neste momento, e porque ninguém corre duas maratonas seguidas, o que sabemos é que, fazendo jus ao nosso lema — Pobres de coisas temporais —, queremos continuar a ajudar a preservar e enaltecer o nosso património cultural, a nossa mais profunda memória coletiva, aquilo que muito nos define enquanto povo", remata.