Nas Termas de São Jorge, no concelho de Santa Maria da Feira (Aveiro), está a registar-se uma crescente procura de novos termalistas desde que reabriram a época termal e, em alguns casos, “são pessoas que até tiveram a infeção da covid-19”, revela Teresa Vieira, diretora geral das Termas de São Jorge e coordenadora da Comissão Técnico Científica da Associação de Termas de Portugal.
“Aquilo de que nos apercebemos dos 15 dias de funcionamento, é que estes novos termalistas, ou seja, que pela primeira vez frequentam as termas, são de faixas etárias mais jovens do que os clientes tradicionais. É um público que anda entre os 45 e os 55 anos de idade, e que vem para as termas porque piorou das suas vias respiratórias, porque anda mais cansado, porque ganhou algum peso e perdeu alguma mobilidade, ou porque esteve em casa em teletrabalho”.
Segundo explicou à agência Lusa Pedro Cantista, diretor Clínico das Termas de São Jorge e presidente da Sociedade Portuguesa de Hidrologia Médica e da International Society of Medical Hidrology, fazer tratamento termal em contexto de pandemia “não representa perigo” para os pacientes e pode mesmo ajudar doentes que tiveram doença covid-19 e continuam a ter sintomatologia, naquilo que já é conhecido pelo síndrome de pós covid ou ‘long’covid.
“Um doente ‘long’ covid-19 quer dizer que persistem os sintomas para além da doença (…). Os sintomas podem ser respiratórios, musculoesqueléticas, neurológicos, cardíacos, dermatológicos”, explica Pedro Cantista, médico e professor universitário, referindo que há um predomínio de “fadiga muscular”, mas que também podem surgir “distúrbios psicológicos”, designadamente alteração da memória, perturbações do sono ou cefaleias.
Nas Termas de Chaves, no distrito de Vila Real, as indicações terapêuticas já são muito direcionadas para as sequelas que podem surgir pós-covid, revela Fátima Pinto, administradora daquela unidade termal, referindo que, desde que reabriram, começa a aparecer um público “mais jovem” com a indicação dos seus médicos especialistas para procurarem nas termas respostas às suas patologias.
“Temos indicação terapêutica para patologias musculoesqueléticas e para patologias do foro respiratório, que são as principais sequelas das pessoas que sofreram covid-19”, descreveu.
Em parceria com a Associação das Termas de Portugal, estão “a criar programas mais direcionados, de mais fácil entendimento por parte de um público novo”.
“Estamos a falar de pessoas que normalmente não viriam às termas e que agora, com esta nova realidade, veem as termas com um aliado para recuperar totalmente da covid-19”, acrescentou.
Fátima Pinto destaca o “aumento dos quadros depressivos derivados da doença da covid-19”, considerando que fazer termas pode ter um papel especial na vertente terapêutica com “programas de relaxamento em períodos mais prolongados para ultrapassar essas dificuldades do foro psicológico”.
“Um tratamento termal na vertente terapêutica pressupõe uma média de 12 dias”, observou.
Nas Termas de Vidago, no distrito de Vila Real, também existem tratamentos novos com as águas para diversas doenças que o confinamento provocado pela pandemia do SARS-CoV-2 acabou por trazer, nomeadamente “depressões” ou “doenças relacionadas com a pele”, conta Jorge Almeida, diretor-geral do Vidago Palace Hotel, unidade onde se localizam as termas de Vigado e espaços de tratamento de beleza e lazer.
“Há um ano, no primeiro confinamento, estivemos fechados entre abril e junho, depois voltámos a reabrir e tivemos um verão de 2020 fantástico, com muita procura exatamente para as termas, de tratamentos novos, pessoas novas no hotel e de idade mais nova”, resumiu Jorge Almeida, explicando que os clientes termais chegam mais nas estações da “primavera e de outono”, enquanto que os clientes que optam por tratamentos de beleza e de relaxamento marcam nos meses de verão.
Segundo o especialista Pedro Calista, o ambiente termal poderá ser “muito útil” para os doentes pós covid e ‘long’ covid.
“É um processo de reabilitação”, disse.
O repositório principal ao nível mundial que é feito nos EUA, no estado americano de Maryland, contabiliza cerca de 250 mil artigos científicos sobre a covid-19.
De reabilitação contabiliza mais 2.500 e dentro destes artigos científicos muitos são de reabilitação em ambiente termal.
Especificamente com recomendações sobre medicina termal para estes doentes no âmbito da Medicina Física e de Reabilitação vão ter novidades publicadas muito em breve”, refere Pedro Calista, garantindo que vão sair conclusões sobre tratamentos para a covid-19 do 45º Congresso da Sociedade Internacional de Medicina Hidrológica e Climatologia, que vai decorrer em Dax (França), nos próximos dias 10 e 11 de junho.
“Isso já está a ser feito multicentricamente (estudos que ocorrem de forma simultânea por meio de um mesmo protocolo), em vários países — Portugal, Espanha, França, Itália, Hungria — e, portanto, o nosso congresso mundial vai já apresentar as conclusões acerca do que as termas podem e devem fazer para oferecer a estes doentes”, acrescenta.
O papel das termas é muito importante neste desafio do país que é recuperarmos todos da covid-19, defende Teresa Vieira, destacando que é também muito importante para recuperar os termalistas infantis.
“As nossas crianças que também acabaram por suspender os seus tratamentos, ou por força dos pais em teletrabalho, ou por força dos avós que os traziam e deixaram de o fazer, por força das aulas online”, indicou.
* Reportagem de Cecília Malheiro (Texto) e José Coelho (Foto), da Agência Lusa
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