Este presidente será “uma personalidade civil ou militar”, de acordo com a proposta de “carta de transição” apresentada hoje pelos peritos na reunião e à qual a agência de notícias francesa AFP teve acesso. Os participantes no grupo de “consulta nacional” devem agora discutir o texto.
Estas propostas vão contra as expectativas de uma grande parte da comunidade internacional, nomeadamente dos vizinhos do Mali que integram a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
A CEDEAO impôs um embargo ao comércio e às transações financeiros do Mali e deu um prazo à junta, até terça-feira, para nomear um presidente e um primeiro-ministro de transição, que devem ser civis, defendendo que a transição não deve exceder um ano.
O documento apresentado às centenas de oficiais do exército, partidos e organizações da sociedade civil reunidos hoje em Bamako propõe a criação de organismos de transição, incluindo um governo com um primeiro-ministro, que seria um civil, mas que seria nomeado pelo presidente. Seria criado um órgão legislativo, chefiado por um oficial militar.
Esta quinta-feira, primeiro de três dias de um diálogo nacional, o líder da junta militar que gere o Mali, o coronel Assimi Goita, pediu que os partidos políticos utilizem a “oportunidade” criada pelo encontro que reúne líderes militares, partidos políticos e grupos da sociedade civil.
“Estamos num importante ponto de viragem na nossa história. Devemos pôr as nossas diferenças de lado e aproveitar esta oportunidade”, afirmou Goita, na abertura do encontro, em Bamako, citado pela agência France-Presse.
Segundo o líder da junta militar, o encontro, que começou na quinta-feira e se prolonga até sábado, pretende lançar “as bases para as reformas políticas e institucionais necessárias para reconstruir” o Mali, assim como delinear “a arquitetura” da transição, de modo a levar novamente civis ao poder.
Em 18 de agosto, um golpe organizado por militares derrubou o então Presidente, Ibrahim Boubacar Keita (IBK), tendo a liderança do país sido assumida por uma junta militar, que se autodesignou Comité Nacional para a Salvação do Povo.
Desde o início, os militares prometeram devolver as ordens aos civis no final de um período de transição a ser determinado.
No entanto, e passado quase um mês desde aquele que foi o quarto golpe de Estado no Mali desde a sua independência, em 1960, o processo de transição continua com algumas dificuldades em avançar.
Por um lado, a presença dos militares à frente do país é bem-recebida por alguns malianos, que vêm, exasperados, o país a afundar-se sob os efeitos do combate aos grupos ‘jihadistas’, da violência intercomunitária, da estagnação económica e um Estado com fraca presença.
Uma das ausências mais notadas no primeiro dia do encontro foi a da antiga rebelião Coordenação dos Movimentos Azawad (CMA), dominada por tuaregues, que decidiu boicotar o encontro.
A CMA, que consiste numa aliança de antigos grupos armados tuaregues e nacionalistas árabes que combateram as forças malianas no norte do país entre 2012 e 2015, decidiu não participar, afirmou o seu porta-voz, Almou Ag Mohamed, à AFP.
Na segunda-feira, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que exige o regresso dos civis após um período máximo de 12 meses, deu aos militares até 15 de setembro para nomear um Presidente e um primeiro-ministro civis para a transição.
Na sequência do golpe de Estado de 18 de agosto, vários responsáveis do Governo de IBK foram detidos e posteriormente libertados, após mediação da CEDEAO.
O ex-presidente deixou Bamako na noite de sábado a bordo de um voo especial alegadamente para receber tratamento no estrangeiro, mas fontes ligadas à junta militar no poder asseguram que a CEDEAO defende o regresso ao Mali de Ibrahim Boubacar Keita caso a justiça e segurança do país o exijam.
A junta militar, que se autodesignou Comité Nacional para a Salvação do Povo, está a promover consultas com diversas formações políticas civis do país para preparar o processo de transição.
Além da instabilidade política, o Mali regista uma situação de violência intercomunitária e de frequentes ataques ‘jihadistas’ contra o exército maliano e as forças estrangeiras, incluindo francesas, destacadas em extensas zonas do centro e norte do país.
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