"Tentaram colocar as minhas intervenções em grandes parangonas [manchetes]. Se eu substituir a palavra [bosta] por outra palavra, como "horror", e se eu dissesse o "horror da bófia", não me parece que isso tivesse merecido nenhuma parangona de nenhum órgão de imprensa". É esta a resposta que o dirigente do SOS Racismo e assessor do Bloco de Esquerda, Mamadou Ba, deu ao SAPO24 quando questionado sobre os termos que usou numa publicação na sua página de Facebook, onde entre outras coisas se lia a expressão "bosta da bófia" e que deu origem a algumas notícias.

A publicação em causa surgiu na sequência dos incidentes no bairro da Jamaica, no Seixal, neste domingo, envolvendo alguns moradores e a PSP.

Quanto aos títulos da imprensa nacional que refletem as suas afirmações, o dirigente do SOS Racismo, diz que são "notícias plantadas" para "evitar que se fale na verdade o que aconteceu". E o que aconteceu, no bairro da Jamaica, diz, "foi um uso abusivo e desproporcional da força [policial]; injustificada e inaceitável num Estado de Direito".

Sobre a possibilidade do comentário ter sido mal interpretado, Mamadou Ba diz não "ser possível". "No mesmo dia em que escrevi esse post, estive na SIC Notícias e a intervenção é pública. Estive no jornal das 15h00. A minha intervenção sobre a PSP é límpida, desse ponto de vista", diz. "Bem sei que não sou lusofalante originário, mas eu tirei Língua e Cultura Portuguesa. Confundir um adjetivo com um substantivo não ajuda a clarificar o debate. Uma coisa é tratar a polícia de bosta, outra coisa é dizer que a sua atuação é uma bosta. São coisas distintas, só não percebe quem não quer. E a sua atuação naquela circunstância foi uma bosta", justifica.

Confundir um adjetivo com um substantivo não ajuda a clarificar o debateMamadou Ba

Relativamente à abertura de uma investigação por parte do Ministério Público, aos incidentes ocorridos no domingo entre moradores e elementos da PSP, no bairro social da Jamaica, Mamadou Ba reage com satisfação. "Era essa a nossa expectativa, a de que o Ministério Público fizesse o seu trabalho", diz. Agora, "temos de aguardar que o processo siga os seus trâmites e no fim falar". Recorde-se que o SOS Racismo anunciou esta segunda-feira que iria apresentar queixa.

Já sobre os confrontos entre manifestantes e polícia, registados ao final da tarde desta segunda-feira, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, o dirigente diz que o SOS Racismo não recebeu "relatos completos" do que aconteceu. "O que sabemos é que o que tem vindo a ser relatado nas redes sociais e pela imprensa. Não temos factos oculares que nos permitam pronunciar sobre eles", explica.

No entanto, Mamadou Ba vê com "preocupação" as notícias desta madrugada. Em Odivelas, na Póvoa de Santo Adrião e em Santo António dos Cavaleiros, segundo a PSP, diversas viaturas foram incendiadas e 11 caixotes do lixo destruídos com recurso a ‘cocktails molotov’. "Espero bem que sejam apenas pontuais" diz. "O que me parece importante neste momento é perceber o que esteve na origem desses desacatos e atuar [o Estado] dentro daquilo que são os procedimentos previstos na lei", conclui.

O que aconteceu

Na manhã de domingo, a polícia foi alertada para “uma desordem entre duas mulheres”, tendo sido deslocada para o local uma equipa de intervenção rápida da PSP de Setúbal. Na ocasião, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da PSP quando estes chegaram ao local, atirando pedras.

Na sequência destes incidentes, ficaram feridos, sem gravidade, cinco civis e um agente policial, que foram assistidos no Hospital Garcia de Orta, em Almada.

A PSP decidiu abrir um inquérito para “averiguação interna” sobre a “intervenção policial e todas as circunstâncias que a rodearam”, da qual resultaram, além dos feridos, um detido, que saiu em liberdade.

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Pelo seu lado, a associação SOS Racismo anunciou que iria apresentar uma queixa ao MP.

Na sequência destes acontecimentos, cerca de duas centenas de moradores do Bairro da Jamaica deslocaram-se, na segunda-feira, até Lisboa, para protestarem contra a atuação policial.

Quatro destas pessoas acabaram detidas pelo apedrejamento de elementos da PSP, durante o protesto, em frente ao Ministério da Administração Interna, para dizer "basta" à violência policial e “abaixo o racismo”.

Segundo o porta-voz do Comando Metropolitano de Lisboa, os manifestantes subiram cerca das 17:00 a Avenida da Liberdade, em direção ao Marquês de Pombal, onde ocuparam a praça central.

Pelas 18:30 começaram a descer a avenida, ocupando as faixas centrais e impedindo a circulação rodoviária, indicou a fonte, explicando que, quando os elementos da PSP os obrigaram a passar para o passeio, começaram a lançar pedras contra os agentes da autoridade e, “pelo menos, dois petardos”.

Esta reação obrigou a “uma intervenção mais musculada da PSP”, levando os manifestantes a dispersarem, indicou a fonte à Lusa, não adiantando se foram disparados tiros.

Poucas horas após estes confrontos, a polícia deteve uma pessoa na sequência de incidentes registados em Odivelas, na Póvoa de Santo Adrião e em Santo António dos Cavaleiros, no distrito de Lisboa, onde diversas viaturas foram incendiadas e 11 caixotes do lixo foram destruídos com recurso a ‘cocktails molotov’, segundo a PSP.

Em comunicado hoje divulgado, a PSP explica que quatro viaturas foram incendiadas cerca das 21:40 de segunda-feira na Póvoa de Santo Adrião (duas) e em Odivelas (duas), e que, na sequência destes incidentes, foram incendiados e destruídos 11 caixotes do lixo e danificadas outras cinco viaturas na zona circundante ao Bairro da Cidade Nova, em Santo António dos Cavaleiros.

No comunicado, a PSP acrescenta que já durante a madrugada, pelas 03:15, no bairro da Bela Vista, em Setúbal, foram lançados três cocktails molotov contra uma esquadra.

“Não houve registo de feridos, mas observaram-se danos na esquadra e numa viatura civil”, adianta a PSP, sublinhando que “não foram ainda identificados os suspeitos desta ação criminosa”.

Na sequência destes incidentes, a PSP reforçou o dispositivo policial nas zonas abrangidas para garantir o clima de segurança e a tranquilidade e normalidade a todos os residentes.

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