Em declarações à agência Lusa, durante uma manifestação junto à embaixada israelita em Lisboa, Ana Nicolau, responsável da PUSP, acusou Israel de utilizar meios desproporcionais contra os palestinianos na Faixa de Gaza, qualificando de “terrível, assustador e inaceitável” um ataque a Rafah, no sul do enclave e junto à fronteira com o Egito.

A ativista adiantou ter ficado satisfeita com as recentes declarações do chefe da diplomacia portuguesa, João Gomes Cravinho, que afirmou que não se pode responsabilizar o Hamas por tudo e que Israel já não pode afirmar que a resposta aos ataques do movimento islamita palestiniano é uma manobra de autodefesa.

“Mas precisamos de ações que acompanhem essas palavras. Queremos que seja exercida pressão para conseguir um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente e que Portugal apoie a África do Sul, no caso apresentado no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), bem como pelo Chile e pelo México no Tribunal Penal Internacional (TPI)”, disse à Lusa.

“Queremos que haja um corte de relações diplomáticas com Israel e que seja expulso o embaixador israelita em Lisboa, pois é o representante do Estado sionista”, frisou Ana Nicolau.

A ativista defendeu que “os países europeus e pelo mundo fora” deveriam ter uma posição conjunta idêntica à que deve tomar o Estado português.

“Israel vai ter de perceber porque a questão é que, agora, há muitos governantes, inclusive os que antes defendiam Israel a 100%, têm uma retórica ultrapassada”, insistiu a ativista portuguesa.

Ações “conjuntas de corte de relações diplomáticas, de expulsar os embaixadores israelitas dos países em que tenham embaixada” dariam uma “mensagem de mudança” e de rejeitarem “ser cúmplices nem ter relações com um Estado genocida”, acrescentou.

Ana Nicolau, que defendeu ser “urgente pôr fim à impunidade israelita”, exigiu também aos países membros da União Europeia (UE) que imponham sanções económicas ao Governo de Benjamin Netanyahu e que os Estados Unidos deixem de financiar a guerra, “porque têm tanto sangue dos Palestinianos nas mãos como Israel”.

A manifestação “Todos os Olhos Virados para Rafah” foi convocada pela PUSP e nela participaram cerca de duas centenas de ativistas que, ao longo de quase hora e meia gritaram palavras de ordem contra Israel, perante a atenção de um importante dispositivo de segurança.

“Israel é um Estado assassino, viva a luta do povo palestino”, “cessar-fogo já” ou “Israel quantos palestinianos mataste hoje” foram algumas das palavras de ordem gritadas pelos manifestantes, alguns deles a empunhar bandeiras da Palestina.

Simbólico foi o minuto de silêncio dos ativistas, que se deitaram imóveis no chão representando a mortandade na Faixa de Gaza.

O Hamas lançou em 7 de outubro de 2023 um ataque surpresa contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, que causou a morte de mais de 1.140 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em números oficiais israelitas.

Cerca de 240 pessoas foram raptadas e levadas para Gaza, segundo as autoridades israelitas. Destas, perto de cem foram libertadas no final de novembro, durante uma trégua em troca de prisioneiros palestinianos, e 132 reféns continuam detidos no território palestiniano.

Em resposta ao ataque, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.

Desde o ataque do Hamas, a forte ofensiva israelita fez mais de 28.600 mortos e 68.400 feridos, na maioria civis.