“Semedo e Arnaut deixaram-nos um grito de alerta e uma exigência ética, a necessidade urgente de uma nova lei”, disse em Lisboa, durante um jantar de homenagem ao antigo dirigente bloquista João Semedo que morreu faz hoje precisamente um ano.
Na ótica de Alegre, “os partidos da esquerda tinham a obrigação moral de corresponder ao apelo de João Semedo e António Arnaut, aprovando uma nova Lei de Bases da Saúde para fazer regressar o SNS [Serviço Nacional de Saúde] aos seus princípios fundadores e constitucionais”.
“Não foi fácil, nada é fácil, houve muitas resistências de fora e de dentro, mas conseguiu-se”, salientou.
A homenagem ao antigo coordenador do Bloco de Esquerda (BE) decorreu na Casa do Alentejo e contou com a presença de figuras do partido como Francisco Louçã ou Moisés Ferreira, e do presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George.
O evento teve o mote “João Semedo, vitória da persistência” e pretendeu assinalar também o acordo partidário que vai permitir a viabilização, na Assembleia da República, da nova Lei de Bases da Saúde, uma das lutas por que se bateu o bloquista.
“Se devemos a António Arnaut [PS] a fundação do Serviço Nacional de Saúde, que representa um salto qualitativo da nossa história política e social, devemos a João Semedo a coragem e lucidez com que ele redigiu as linhas orientadoras de uma nova Lei de Bases da Saúde”, sublinhou o socialista.
Para Manuel Alegre, “João Semedo era um homem raro pela sua delicadeza, pela coerência com que defendeu as suas causas, pela sua bondade e pela forma como lutou pela justiça e pelo Estado social como cidadão, como médico e como militante e dirigente político do Bloco de Esquerda”.
“É com emoção e respeito que me junto aos seus amigos, aos seus camaradas e à sua família para celebrar hoje uma vida que é um exemplo para todos nós”, revelou.
Pouco depois da intervenção de Alegre, a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda revelou que hoje “é um dia difícil porque é difícil assinalar um ano sem João Semedo”.
“Fazemos o dia mais fácil se assinalarmos a nova Lei de Bases da Saúde e a enorme conquista que é podermos daqui a dois dias deitar para o caixote do lixo da História uma lei que dizia que a obrigação na saúde era o mercado da doença e vamos repor outra vez a sanidade da democracia de dizermos que a obrigação na saúde é mesmo o acesso à saúde de toda a população”, advogou.
Isto porque, continuou a bloquista, “esse é um trabalho também do João Semedo”, que recordou como um “homem de convicções fortes e que sabia que as convicções fortes fazem caminho com amplos diálogos”.
“Este caminho da Lei de Bases da Saúde foi isso mesmo, amplos diálogos, mas convicções fortes, com muitas armadilhas pelo caminho”, assinalou Catarina Martins.
A responsável do BE aproveitou também a ocasião para antecipar o futuro.
“Eu acho que há compromisso que temos de fazer entre nós também agora para uma nova fase. Pela parte do Bloco, nós comprometemo-nos a irmos agora ao que falta”, disse.
Na ótica da líder do partido, o que falta é “uma lei sobre a gestão do Serviço Nacional de Saúde que diga aquela coisa tão clara como ‘os privados tratem dos privados e o público tem de gerir o que é público’, como dizia sempre o João Semedo, separar as águas, ser claro”.
“Vai ser preciso ir à luta pelo investimento”, bem como “lançar novas bases para o Serviço Nacional de Saúde”, referiu Catarina Martins, notando que “uma nova Lei de Bases é também uma oportunidade para um novo paradigma no Serviço Nacional de Saúde, que responda às novas exigências”.
“Estamos cá para esse caminho, com as convicções fortes e com toda a abertura para todos os diálogos. É assim que temos feito, é assim que queremos continuar a fazer”, rematou.
Comentários