"As pessoas têm o direito de não gostar do 25 de Abril, têm o direito de não o querer celebrar, o que já não têm é o direito de pretender impedir que o parlamento faça essa celebração nos termos que decidiu", disse à Lusa o antigo deputado do PS, um dos primeiros subscritores de uma petição online que defende a homenagem prevista pela Assembleia da República, contra outra que pede o cancelamento da sessão solene.
Manuel Alegre salienta que a petição não é apenas sua, mas "uma iniciativa de um conjunto de subscritores que se identificam com o 25 de Abril e que entendem que a democracia não está suspensa a e que é perfeitamente natural e legitimo que o parlamento comemore o 25 de Abril" em moldes diferentes, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.
"Entendemos também que é uma hipocrisia fazer comparações entre esta celebração, num parlamento reduzido e com pouca gente, e a celebração da Páscoa, que implicaria a deslocação de muitos milhares de pessoas para diferentes pontos do país, numa altura que coincidia com o pico da pandemia", referiu.
Além de Manuel Alegre, estão entre os primeiros subscritores desta petição Domingos Abrantes, militante do PCP e conselheiro de Estado, os antigos deputados socialistas Alberto Martins e José Vera Jardim, o fundador do BE Fernando Rosas, a eurodeputada deste partido Marisa Matias e a professora catedrática e ensaísta Isabel Alegro de Magalhães.
O antigo deputado salientou que quem decidiu o formato da sessão solene foi "a maioria do parlamento, que é um órgão de soberania que aprovou o estado de emergência, não está suspenso, e tem toda a legitimidade" para o fazer.
"As pessoas que lançaram determinada petição, no fundo, há ali gente que não gosta de comemorar o 25 de Abril - e têm o direito de não comemorar, é um direito que lhes dá o próprio 25 de Abril -, mas não vale a pena recorrerem a argumentos hipócritas", afirmou.
A petição que pede o cancelamento da sessão solene no parlamento, lançada há vários dias, já recolheu ‘online’ perto de 68.000 assinaturas, enquanto a que defende a celebração pela Assembleia da República, colocada no sábado, tem mais de 9.500 subscritores.
Manuel Alegre, presença habitual em muitas sessões solenes do 25 de Abril, fará este ano uma "celebração mais íntima", já que se encontra confinado em casa.
"Será uma comemoração de alguém que quando o 25 de Abril aconteceu estava no exílio e para sempre estará grato aos capitães de abril. Comemorarei com a minha mulher, em casa, e vendo as cerimónias pela televisão, como é óbvio", afirmou.
No sábado, o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, anunciou que não iria à sessão solene do 25 de Abril no parlamento por a considerar "um péssimo exemplo para os portugueses" e o deputado único do Chega, André Ventura, escreveu ao presidente do parlamento, pedindo a Ferro Rodrigues que cancele a sessão solene, dizendo que esta "está a gerar um enorme sentimento de revolta e indignação no povo português".
Mais tarde, em declarações ao jornal Público, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, assegurou que, "mais do que em qualquer outro momento, o 25 de Abril tem de ser e vai ser celebrado na AR".
"Celebrar o 25 de Abril é dizer que não sairá desta crise qualquer alternativa antidemocrática", afirmou a segunda figura do Estado.
Devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19, a Assembleia da República decidiu na quarta-feira realizar a sessão solene do 25 de Abril no parlamento com um terço dos deputados (77 dos 230 parlamentares) e menos convidados, com o gabinete de Ferro Rodrigues a estimar que estejam presentes cerca de 130 pessoas, contra as 700 do ano passado.
A decisão da conferência de líderes teve o apoio da maioria dos partidos: PS, PSD, BE, PCP e Verdes.
O PAN defendeu o recurso à videoconferência, a Iniciativa Liberal apenas um deputado por partido, enquanto o CDS-PP - que propôs uma mensagem do Presidente da República ao país - e o Chega foram contra.
Na sexta-feira, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reafirmou que irá participar na sessão comemorativa do 25 de Abril no parlamento, "com um número exíguo de deputados", e do 10 de Junho, numa "cerimónia simbólica" junto ao Mosteiro dos Jerónimos.
"O Presidente da República participará nas cerimónias do 25 de Abril e do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, tal como já tem referido publicamente. No 25 de Abril, nos termos definidos pela Assembleia da República, aliás com um número exíguo de deputados e meramente simbólico de convidados", salientou o chefe de Estado, numa nota publicada no portal da Presidência da República na Internet.
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