Dos seis filhos de Manuel, o "Leão", como é conhecido em Castelo de Neiva, quatro trabalham ou estão ligados ao mar, mas ao mais novo, ainda na tropa, quer ver se lhe tira daí a ideia.

“Não aconselho a um filho meu, que tenho novo, a ir para o mar. O mar já deu o que tinha a dar. As gasolinas estão caras, o isco está caro e o peixe não encarece”, atirou Manuel.

O "Leão", “só de apelido, porque o coração é vermelho da cor da águia” fez questão de abalar, hoje, da aldeia piscatória de Castelo de Neiva até à cidade Viana do Castelo, para se juntar ao protesto por mais apoios à pesca artesanal.

Seja o resultado da faina “melhor ou pior”, o pescador “tem de pagar a despesa”,

“Não vamos chorar, nem deitar a afogar”, disse.

Hoje com 64 anos, acompanha o desfile dos manifestantes, em passo mais lento, apoiado nas canadianas que amparam um dos tornozelos, que “partiu em três sítios num acidente no mar”. Vai contando histórias dos “sustos” por que passou desde os 14 anos, quando começou a acompanhar o pai.

“A minha vida foi sempre o mar e vai ser enquanto puder. Gosto muito da pesca. Já vem de família, do avó e do pai. Até as minhas filhas já vão ao mar. É uma alegria. No mar ninguém chateia. Vamos e vimos quando queremos. Não faz falta picar a ficha”, afirmou.

Começou por pescar em barcos “pequenos e não tão bem equipados” como os atuais, o que fazia da faina uma atividade “muito perigosa”.

“Já fui ao fundo três vezes. Uma vez nadei quatro horas, faz anos na Quinta-Feira Santa. Outra vez fui ao fundo com um filho meu e disse-lhe: Morrer por morrer, morro eu que sou mais velho. Dei-lhe os dois coletes. Acabei por sair debaixo do barco na praia de Belinho, em Esposende”, contou.

Apesar de ter sobrevivido sempre, em uma das vezes em que o barco virou, foi dado como morto. Quando chegou a casa, vindo do hospital, acompanhado pela mulher, tinha um caixão à espera.

“E eu vivinho da silva”, gracejou Manuel.

Além dos sustos que viveu, não esquece os amigos que o mar lhe levou. Recorda os dois irmãos que naufragaram em dezembro de 2009, andavam à pesca do polvo do Natal, “que nunca mais apareceram”.

“Fui eu que dei pela falta deles e fui procurá-los, mas o comandante [da capitania] me deu voz de prisão porque o mar estava bravo e tive de vir embora. Ainda encontrei o barco, mas eles nunca mais apareceram”, lamentou.

No Neiva Mar, o nome do barco que governa, Manuel Sá pesca congro, fanecas, mas o polvo é o mais rentável.

“Nem tudo o que vem à rede é peixe. Vem também muito lixo”, observou o pescador que não gosta de comer peixe.

“Nunca vi peixe puxar carroça. Em pequenino comia. A minha mãe dava uma sardinha dividia em três. Não havia mais e éramos cinco filhos”, contou.

Apesar de não ser bom garfo para o peixe, e muito menos para o polvo, Manuel faz uma “boas caldeiradas” que aprendeu durante os 20 anos em que foi cozinheiro, “nos barcos grandes”.

Na freguesia piscatória de Castelo de Neiva usam-se apelidos para identificar as famílias. O pai de Manuel Sá já era "Leão" e por "Leão" passou a ser conhecido.

“Tenho apelido de leão, mas não sou sportinguista. Sou águia”, disse orgulhoso, referindo-se ao clube “do coração”.

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