Havia "sinais de agonia" no coração, afirmou Mauricio Cassinelli, médico legista que examinou o corpo na casa onde Maradona morreu na cidade de Tigre, no norte de Buenos Aires, e numa autópsia realizada poucas horas depois em San Isidro, onde acontece o julgamento.

Cassinelli indicou que a agonia pode ter começado "pelo menos 12 horas" antes da morte do ídolo, que a autópsia estabeleceu em entre 9h da manhã e meio-dia (mesmo horário em Brasília) de 25 de novembro de 2020.

Maradona estava a acumular água nos pulmões desde "pelo menos dez dias" antes da morte, causado por insuficiência cardíaca e cirrose hepática, segundo Cassinelli, que considerou que os enfermeiros e médicos deveriam ter notado os sintomas antes do desenlace.

O coração "pesava quase o dobro do que pesa um normal para uma pessoa adulta", apontou o médico. A autópsia também não encontrou "álcool ou outras substâncias tóxicas" no corpo.

Também foi ouvido na quinta Federico Corasaniti, outro médico que participou na autópsia, cujo depoimento foi similar ao de Cassinelli e coincidiu com ter "havido agonia", e com o um quadro que poderia ter sido tratado se tivesse sido alertado a tempo.

"Era simplesmente colocar um dedo nas suas pernas, sentir a sua barriga, agarrar no estetoscópio e ouvir os pulmões, e ver a cor dos lábios", indicou Corasaniti, que afirmou que o quadro não foi "súbito nem imprevisto" e que era facilmente detectável

Também disse que, quando se deteta um quadro como o que Maradona apresentava num contexto não hospitalar, o procedimento adequado "é chamar uma ambulância e levar a um hospital", para ser tratado com "diuréticos e oxigénio".

O primeiro médico assinalou que o cérebro também estava mais pesado que o normal, assim como os pulmões, que estavam "cheios de água". Ambos coincidiram com causa da morte por "edema pulmonar agudo secundário a uma insuficiência cardíaca congestiva aguda".

Para Cassinelli, a casa onde Maradona morreu não pareceu "um lugar adequado para uma internação domiciliar".

Os advogados de defesa não fizeram muitas perguntas às testemunhas e aguardam outros peritos com versões distintas das apresentadas na audiência.

O julgamento

Durante a audiência em San Isidro, um subúrbio de Buenos Aires, foram projetadas fotografias da autópsia de Maradona. Uma das filhas do jogador, Jana, esteve presente após prestar depoimento como testemunha na terça-feira, mas retirou-se da sala antes da exibição das imagens.

Na terça, outra testemunha, o ex-segurança de Maradona, Julio Coria, foi detido acusado de falso testemunho.

O seu advogado, Gastón Marano, disse aos jornalistas na quinta, na entrada do tribunal, que o seu cliente "vai prestar depoimento por escrito" entre hoje e amanhã. Enquanto isso, Coria segue sob custódia policial.

Sete profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, a psiquiatra e um psicólogo) são acusados de homicídio com dolo eventual, o que implica que tinham consciência de que o seu procedimento poderia causar a morte de Maradona. A oitava acusada, uma enfermeira, será julgada num processo separado.

O ídolo de Boca Juniors e Napoli faleceu durante um internamento domiciliário enquanto estava sob cuidado dos acusados, após uma neurocirurgia.

Diversas testemunhas, entre elas os policias que entraram na casa após a morte do futebolista e os primeiros médicos a chegar, destacaram a ausência de equipamentos médicos no local.

O julgamento, que começou a 11 de março, deve durar pelo menos até julho, e espera-se que dezenas de testemunhas sejam ouvidas. Os acusados alegam inocência e podem ser condenados a entre oito e 25 anos de prisão.

A próxima audiência será na terça-feira e a procuradoria ainda não anunciou quais serão as testemunhas.