“As pessoas não estavam à espera de um perfil presidencial destes”, confessou Marcelo Rebelo de Sousa numa entrevista ao jornal Entretanto. No dia em que completou 69 anos, 12 de dezembro, o Presidente da República revelou que no início do seu mandato foi confrontado com uma chuva de críticas, pelo estilo político adotado, que em muito contrasta com o do seu antecessor, Aníbal Cavaco Silva.

Marcelo conta que foi várias vezes confrontado com o facto de a sua postura de proximidade poder “banalizar a função presidencial” ou “retirar distanciamento para que depois pudesse exercer a autoridade”. “Houve inúmeras críticas dessa natureza”, diz.

Na opinião de Marcelo Rebelo de Sousa a razão para tal estranheza é uma questão de tempo - “como já foi há trinta anos, as pessoas já não se lembram” - e relembra o mandato presidencial de Mário Soares, 1986 e 1996. Um Presidente “que era muito solto nos seus programas, improvisando, jantando ou almoçando mais vezes fora do que eu próprio. Não perdia tertúlias literárias, exposições, viajava muito mais do que o que eu viajo”, relembra.

Apesar de tudo, Marcelo reconhece que pela “ideia de estar o mais próximo possível das pessoas e de estar no maior número de sítios possível há um preço a pagar” e isso reflete-se sobretudo na vida pessoal - “tem custos para a vida familiar, tem custos para o convívio com vários amigos, que eu tento mitigar, mas tem”, diz. E custos para si próprio - “obviamente, muito exigente, mesmo do ponto de vista físico”.

“Muitas vezes, as pessoas, para conseguirem chegar, apertam, puxam, empurram, mas faz parte das regras do jogo. E depois é muito difícil dizer “sim” a tantas pessoas e dizer “não” a outras. Desde o momento em que se aceita, em princípio, aceita-se a todos”, observa.

Como contornar o desgaste da presidência? Distância e análise

O Presidente confessa que, no entanto, tem as suas próprias estratégias para em um ano e meio de mandato cumprido ir resistindo ao desgaste da presidência.

Primeiro, diz, procura guardar momentos “para ter distanciamento em relação” à sua vida pessoal e à função. Depois é uma questão de autoavaliação, uma matéria quem que Marcelo diz estar em vantagem: “estou habituado a analisar-me desde há cinquenta anos.

“Em várias situações da vida a pessoa deve distanciar-se, fazer um ponto, se possível todos os dias, de como é que vão as coisas, de como está a nossa realidade e ser implacável no juízo sobre si próprio”, explica o Presidente.