Num curto discurso, Marcelo Rebelo de Sousa falou de um Portugal "que sabemos ser passado mas queremos futuro, independente e livre. Independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida, da sujeição. Livre da prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenofobia e do racismo".

Após a enumeração, o Presidente da República detalhou todas as dimensões de um dia que celebra o país, a sua cultura e as suas comunidades, sem porém esquecer as forças militares, a quem deixou uma palavra de agradecimento.

"[Hoje é] Dia de Camões e portanto, da nossa língua, da nossa educação, da nossa ciência, da nossa inovação, do nosso conhecimento, como que a dizer-nos que só seremos portadores de independência, liberdade e universalismo se juntarmos à cultura ancestral a antecipação do futuro", disse o presidente, colocando o olhar num Portugal de futuro.

"[É também] Dia das Comunidades portuguesas, espalhadas pelo mundo, desse outro Portugal que nos torna universais", disse Marcelo, considerando essa dimensão do povo português uma "provocação e desígnio". O Presidente da República deseja comunidades "mais presentes nas nossas leis, nas nossas decisões coletivas, na nossa economia, mas sobretudo na nossa alma", deixando "uma palavra de incondicional solidariedade em especial para com as que mais sofrem ou desesperam".

No discurso não ficaram esquecidos "aqueles e aquelas que nos chegam de tantas paragens sonhando ficar e viver connosco a vida que lhes é negada nas suas terras natais" e que Portugal é chamado hoje a acolher.

Sobre as Forças Armadas, Marcelo homenageou os "portugueses em armas, que nos deram vezes sem conta a independência e a liberdade" e que constroem essa independência "cá dentro e lá fora, com a serena consciência do dever cumprido". Disse Marcelo que é "missão" dos portugueses "respeitar quem nos deu e dá a independência e a liberdade de sermos como somos, criar riqueza, combater a pobreza, superar injustiças, promover conhecimentos, abraçar uma pátria que não tem fronteiras espirituais e nasceu para ser ecuménica e universal".

Consciente dos desafios que se colocam nesta visão de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou que "mais é aquilo que nos aproxima do que o que nos afasta".

O Presidente recordou que as celebrações continuam no Brasil, num dia em que se reafirma "que acreditamos em Portugal e nos portugueses".

"O passado, mesmo quando menos feliz, foi a nossa garantia, o presente é a nossa exigência, o futuro é o nosso destino", concluiu o Presidente.

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Falar de genes para dizer aos portugueses que deveriam entender, como poucos, o drama dos refugiados

O presidente da Comissão Organizadora do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Sobrinho Simões, celebrou hoje a “extraordinária diversidade genética” dos portugueses e salientou como essa diversidade deu origem a "uma sociedade de gentes muito variadas, tolerante em termos religiosos, avessa aos extremismos pseudo-identitários que irrompem um pouco por todo o lado”.

“Não estou a sugerir que há genes portugueses, não há, o que os portugueses têm é uma mistura notável de genes com as mais variadas origens, se há algo único, ou quase único em nós, é essa mistura genética”, referiu Sobrinho Simões durante a sua intervenção na cerimónia comemorativa do 10 de Junho, no Porto.

Segundo o patologista e investigador, o povo português é de uma “extraordinária diversidade genética” porque incorporou, ao longo de séculos, judeus e berberes vindos de Espanha e do Norte de África, porque se misturou com árabes, porque teve escravatura de povos da África subsariana no país e nas colónias. “E também porque fomos através do mar para tudo quanto era sítio na África, na Ásia e na América do Sul e de lá voltámos com filhos e, sobretudo, filhas”, disse.

“O ponto que estou a procurar salientar é que a incorporação de genes foi acompanhada pela incorporação das respetivas culturas, criando uma sociedade de gentes muito variadas, tolerante em termos religiosos, avessa aos extremismos pseudo-identitários que irrompem um pouco por todo o lado”, vincou.

Na opinião do fundador do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IPATIMUP), a sociedade portuguesa deveria entender, como poucas, o problema dos refugiados.

“Deveríamos ser capazes de integrar gentes que se veem obrigadas a fugir de casa, comportando-se como uma comunidade inclusiva e solidária, uma comunidade que percebe o valor sociocultural, económico e até demográfico da integração dos migrantes. Somos uma das sociedades com menos filhos do mundo”, lembrou.

Tudo isto, mais a localização periférica, a história, a geografia, o clima e a religião criou uma sociedade de “elevadíssimo contexto”, caracterizada “muito mais” pela importância dos laços de sangue do que de propriedade, frisando que são todos parentes uns dos outros.

Sobrinho Simões deixou ainda no seu discurso uma nota de saudade pelo desaparecimento este ano de “personalidades ímpares”, entre os quais Mário Soares, Daniel Serrão, Miguel Veiga e João Lobo Antunes que apelidou de “portugueses de eleição”.

(Notícia atualizada às 11h55)

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