Numa entrevista ao humorista Ricardo Araújo Pereira na estreia do seu programa na SIC “Isto é gozar com quem trabalha”, gravada na sexta-feira e emitida hoje, o chefe de Estado foi desafiado a dizer “quem ficou mais irritado” com a hipótese de a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes se candidatar a Belém: ele próprio ou António Costa.
“Não posso falar pelo primeiro-ministro, neste caso pelo líder do PS, posso falar por mim. Eu por mim, como Presidente da República, é o contrário de estar irritado, acho que é positivo: o que valoriza a democracia é a importância das eleições e a eleição é tão mais importante quanto mais vasto for o leque das escolhas dos portugueses”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que tal hipótese se aplica quer a Ana Gomes quer ao deputado André Ventura, que lançou formalmente a candidatura no sábado.
“Quanto mais amplo for o leque melhor, se alguém pensa que tem condições de ser o melhor Presidente da República para Portugal deve lançar-se”, instou.
Sem desfazer o ‘tabu’ sobre a sua eventual recandidatura, Marcelo colocou a hipótese no plano teórico, o que provocou gargalhadas entre a plateia.
“Mas vamos imaginar que eu sou candidato, aí também pensaria exatamente o mesmo: para qualquer candidato só valoriza o papel da eleição haver o maior número de portugueses e portuguesas que acham ‘eu sou o ou a melhor para este lugar’ e aparecerem”, considerou.
Na entrevista, o chefe de Estado foi desafiado por Ricardo Araújo Pereira a apontar características positivas e negativas aos líderes políticos, e fez a ressalva que apontaria apenas aspetos “pessoais e não políticos”.
Sobre o primeiro-ministro, António Costa, reiterou tratar-se de um “otimista irritante” e salientou como aspeto positivo a sua capacidade de resistência “física e psíquica”.
“Agora qual é outra face da realidade? É o irritante (…) maximiza os cenários favoráveis e minimiza a hipótese de cenários desfavoráveis. Tudo tem um preço”, apontou.
Já ao líder do PSD, Rui Rio, o Presidente da República elogiou “a grande determinação” e o facto de, em algumas matérias, “não flutuar e ser previsível”.
“Quem entender que pode modificá-lo engana-se. Qual é a outra face da realidade? A determinação levada ao extremo pode ser teimosia”, referiu.
À coordenadora do BE, Catarina Martins, o chefe de Estado destacou pela positiva a sua capacidade de comunicação: “É muito clara, muito incisiva, a mensagem passa com grande eficácia. A outra face da moeda é que essa facilidade da comunicação pode dar aparência de frieza, de rispidez”, considerou.
Do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, o Presidente destacou o afeto e a genuinidade, “muito ligado à sua forma simples, não simplista, de ser”.
“O que me impressiona a falar com Jerónimo de Sousa é que é muito preocupado, às vezes dá a sensação que tem o peso do mundo em cima dos ombros”, referiu, dizendo que também encontrou essa característica no antigo chefe de Estado Jorge Sampaio.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda não conhecer bem o novo líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, mas considerou-o uma pessoa “bem-intencionada e voluntariosa”, apontando-lhe como “problema” a inexperiência própria de quem “está a dar os primeiros passos”.
Já sobre André Silva, porta-voz do PAN, o Presidente da República considerou que trata um “núcleo de problemas que não são artificiais”, mas corre o risco de ser “monotemático”.
Dos três novos protagonistas no parlamento, André Ventura, João Cotrim Figueiredo e Joacine Katar Moreira, o chefe de Estado preferiu não destacar características pelo pouco tempo de convivência, mas, instado pelo humorista, acabou por confessar que não tem “muito tempo” para ver os programas de comentário desportivo, nem com o líder do Chega, nem outros.
Ricardo Araújo Pereira ainda tentou que o Presidente da República respondesse se valerá a pena vetar a lei da eutanásia - sobre a qual não tem feito quaisquer comentários -, argumentando que mesmo esses doentes correm o risco de ficar nas listas de espera, mas obteve apenas uma nova pergunta como resposta.
“Porque é que não disse isso aos subscritores dos projetos quando estes tiveram de optar em fazer uma lei nova?”, questionou Marcelo Rebelo de Sousa.
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