Num discurso na Escola Portuguesa de Luanda, depois de ouvir um grupo de alunos cantar os hinos angolano e português, Marcelo Rebelo de Sousa referiu-se à visita que fez hoje de manhã ao Museu Nacional de História Militar, que tem artefactos do início do tempo colonial, da guerra de independência de Angola e da guerra civil.
"Aí pude encontrar a junção de duas histórias, junção que, de alguma maneira, o novo ciclo histórico projeta de modo diferente para o futuro. Primeiro, com a história que se traduziu, como eu escrevi no livro, em abrir caminho para a unidade de Angola, quando portugueses reconquistaram a posição de outros povos, há muitos séculos, na disputa em relação a Angola", disse.
Perante centenas de pessoas, acrescentou que "angolanos e portugueses desbravaram novas sendas e acabaram por permitir que não houvesse a divisão, a fragmentação que podia ter existido na criação de uma realidade política, e quando o foram fazer, de acordo com as conceções da época", encontraram "na sua frente um grande reino, o Reino do Congo".
"E uma grande rainha, uma grande senhora, começando aí uma interlocução, um diálogo, marcado muitas vezes como sabemos por altos e baixos - altos importantes, mas muitos baixos - e quando isso foi a história, e a história foi o que foi, dessa história ficou, até séculos depois, aquilo que era abrir o trilho para uma unidade territorial", completou.
Segundo o chefe de Estado português, "a história contemporânea também lá está retratada, na afirmação dessa unidade, superando as diversidades - as de outros tempos e as de tempos mais vizinhos ou mais próximos" e "ao longo dessas duas histórias houve um traço comum: esse traço comum foi a presença de angolanos em Portugal e de portugueses em Angola".
Antes, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que iniciou a visita de Estado a Angola, que hoje termina, com "uma homenagem no Memorial Agostinho Neto", na quarta-feira.
"E era justo que assim fosse, porque é uma homenagem a esta pátria e a um pai fundador desta pátria. E a um símbolo como pessoa, como escritor, como professor, como pedagogo, como servidor dos outros, como estadista, como fundador de uma nova realidade, portentosa como é Angola", considerou.
Sobre as atuais relações luso-angolanas, reiterou que se está "a entrar num novo ciclo histórico", porque "há vontade política" das duas partes, mas antes disso porque os povos dos dois países "queriam mais", na educação, na saúde, na Segurança Social, na atividade financeira, na justiça, na cooperação política e militar.
"Queriam e querem mais, e os responsáveis ouviram o vosso apelo, perceberam o vosso apelo, entenderam", defendeu.
O Presidente português fez esta intervenção tendo atrás de si os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro.
No palco estavam também os líderes parlamentares do PSD, Fernando Negrão, do PCP, João Oliveira, do CDS-PP, Nuno Magalhães, e as deputadas Lara Martinho, do PS, e Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda, que o acompanharam nesta visita de Estado a Angola, dividida entre Luanda e as províncias de Benguela e da Huíla.
"E pena tenho eu de não ser possível percorrer todo o território angolano - teria de se convencer a Assembleia da República, que tem de autorizar o Presidente da República a uma longa permanência em Angola", observou Marcelo Rebelo de Sousa, na parte final do seu discurso.
Provocando risos e palmas, o chefe de Estado anteviu que isso "suscitaria alguns pequenos problemas políticos internos e externos, podia ser interpretado como uma preferência presidencial por Angola".
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