Anfitrião de um encontro entre o patologista Sobrinho Simões e alunos do secundário do Colégio Moderno no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que "a tragédia dos incêndios apela a cuidar da casa comum", aludindo a uma frase na apresentação do cientista que é também título de uma encíclica do papa Francisco.

O chefe de Estado louvou os "jovens que devem ser de exceção" e "quem é muito bom cientista" e, além disso, não é daqueles "muito chatos e herméticos, sem paciência para o convívio com os outros, sejam professores, alunos ou a sociedade em geral".

Marcelo Rebelo de Sousa encorajou os alunos do 11.º ano da área de Ciência e Tecnologias a serem "muito bons" como Sobrinho Simões, afirmando que "quem é muito bom em Portugal é excecional no resto do mundo" e é capaz de influenciar o futuro, quer de Portugal quer de outros países.

Na maneira como se associam, relacionam, trocam ideias e iniciativas, estão "a fazer Portugal e vão fazê-lo melhor", considerou.

Sobrinho Simões traçou uma linha entre a maneira como a espécie humana evoluiu como vencedora entre as demais e acabou por "dar cabo disto tudo", referindo-se às outras espécies que a atividade humana ameaça e à sustentabilidade planetária ameaçada.

"Demos cabo de tudo porque somos vencedores", ilustrou, afirmando que a espécie ‘sapiens sapiens’ triunfou sobre outros ramos da evolução, como o homem de Neandertal, porque soube misturar os seus genes, reproduzindo-se em círculos muito mais alargados que os Neandertal, que a consanguinidade tornou mais frágeis.

Foi um dos fatores que fez com que hoje a biomassa dos seres humanos seja "oito vezes superior à de todos os outros vertebrados terrestres combinados".

Mas Sobrinho Simões sublinhou que é por cerca de um por cento que o ADN humano é diferente do do chimpanzé. E que até o pato ou o arroz são primos distantes das pessoas, porque todos tiveram origem nos mesmos organismos unicelulares, há centenas de milhões de anos.

O crescimento da espécie humana criou problemas para si e para outras espécies, por exemplo na maneira como se generalizou o uso do plástico, que contem moléculas que são "disruptores endócrinos", capazes de originar cancros, sobretudo da mama e dos testículos, e que também afetam outros vertebrados.

Os peixes da barragem de Crestuma, por exemplo, estão a "mudar de sexo" por causa da contaminação da água com plásticos, indicou, salientando que "em Portugal é um grande problema, há uma grande quantidade de disruptores endócrinos".

Para continuar a evoluir no sentido de seres humanos melhores, Sobrinho Simões afirmou que o caminho é "educação, cultura e exemplo".

"Não metam os genes nisto", recomendou.