Em declarações à SIC na praia fluvial de Vouzela, Marcelo Rebelo de Sousa caracterizou a decisão de Pedro Santana Lopes como "drástica".
"Eu tenho uma concepção — tenho a minha filiação partidária agora suspensa —, para mim um partido é uma família e não se muda de família, mas tenho grandes amigos que pensam o contrário. É uma opção como outra qualquer, e portanto muda-se de partido quando se entende que o partido já não corresponde àquilo que se pretende", disse Marcelo.
"Eu ainda não li a carta [de Santana Lopes] dirigida aos militantes do PSD. Mas foi uma opção que ele fez. Uma opção drástica, uma mudança de vida drástica, tendo sido uma figura importante no partido. Mas o Presidente não pode nem deve imiscuir-se na vida dos partidos", acrescentou.
Todavia, Marcelo Rebelo de Sousa deixou um alerta: "Aquilo que [o Presidente da República] deve fazer é garantir que quem está na área do poder tem coesão para garantir um governo que funciona; e que quem está na oposição é forte para dar uma alternativa forte. O que me preocupa é que a oposição não se fragmente; de tal maneira que deixe de ser uma alternativa de poder", disse.
Nesta curta intervenção, Marcelo escusou comentar a entrevista de Pedro Duarte, seu diretor de campanha e antigo presidente da JSD, que desafiou a liderança de Rui Rio no PSD numa entrevista ao jornal Expresso.
Pedro Duarte, atualmente sem cargos no partido, defende que “o PSD, tão cedo quanto possível, deve mudar de estratégia e de liderança”. E justifica: “O PSD desistiu de apresentar uma alternativa ao PS e está empenhado em substituir o BE e o PCP no apoio ao Governo socialista”.
Diz mesmo que esta estratégia (de Rui Rio) não foi sufragada nas eleições diretas do partido e que “os militantes pensavam estar a escolher um candidato a primeiro-ministro, mas na verdade escolheram um candidato a vice-primeiro-ministro”. Quando questionado sobre se está disponível para ser candidato à liderança contra Rui Rio responde sem rodeios: “Sim. Estou preparado para liderar uma nova estratégia no PSD e uma nova esperança para o país, em nome do interesse nacional”.
Marcelo Rebelo de Sousa está este sábado a fazer um périplo pelas praias fluviais da zona centro. O Presidente foi a banhos esta manhã em Vouzela e segue depois para Tondela e Oliveira do Hospital. O Presidente visa com esta iniciativa desafiar os portugueses a passar férias ou mesmo um fim de semana na zona centro, impulsionado assim a economia da região afetada no ano passado pelos incêndios.
A carta de despedida de Santana
Pedro Santana Lopes vai sair do PSD e formar um novo partido, decisão que já comunicou à liderança social-democrata e que explica numa carta aberta aos militantes, a que o Observador teve acesso.
Ao líder partidário, Rui Rio, e ao secretário-geral do partido, José Silvano, a decisão foi comunicada na sexta-feira à tarde, por telefone, segundo o Observador.
Santana Lopes põe assim fim a 40 anos de militância no PSD, dos quais guarda recordações de “momentos únicos” e “extraordinários”, mas também de alguma desilusão, sobretudo por sentir que os seus discursos eram ouvidos, mas as suas ideias pouco atendidas.
Na carta de despedida, Pedro Santana Lopes considera: “não faz sentido continuar numa organização política só porque já estamos há muito, ou porque em tempos alcançamos vitórias e concretizações extraordinárias se, no passado e no tempo que importa, no tempo presente, não conseguimos fazer vingar ideias e propostas que consideramos cruciais para o bem do nosso país”.
Entre os exemplos que cita de ideias que defendeu, e das quais “o PSD nunca quis saber”, para a Política Agrícola Comum, a desertificação do interior ou ainda as críticas ao poder “discricionário” de demissão do Governo atribuído ao Presidente da República.
Recordando o episódio em que foi demitido de primeiro-ministro pelo então Presidente da República Jorge Sampaio, Pedro Santana Lopes reconhece que talvez se devesse ter desfiliado na altura, mas não deixa de apontar o dedo ao PSD.
“Quando destacadíssimos militantes do partido tudo fizeram para que Jorge Sampaio abolisse a maioria parlamentar legítima e estável por motivos que se 'absteve de enunciar'. Ou, no ano seguinte, quando o PSD impediu a recandidatura à Câmara Municipal de Lisboa que conquistáramos, a pulso, à maioria de esquerda, quatro anos antes”, especifica.
Para o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, todas estas decisões “graves” têm consequências políticas até hoje.
Na carta aberta, Santana Lopes pronuncia-se também sobre Rui Rio, criticando o “pensamento económico ortodoxo” e a “aproximação ao PS” e lembrando que deixou avisos durante as diretas.
“Vinha aí uma estratégia de condescendência para com o PS, para mim, um erro grave. Disse, e repeti, que os militantes deveriam rejeitar a via que, de modo mais ou menos explícito, admitia o Bloco Central”, escreve Santana Lopes, citado pelo Observador.
Em contrapartida, elogia Pedro Passos Coelho, de quem diz ser uma “pessoa com grandes qualidades, em vários domínios da vida” e que “como líder político mostrou ser sério, competente, coerente”.
Lembrando que nunca calou “diferenças” com o antigo primeiro-ministro, como “no congresso de 2014 e no dia da resolução do BES”, Santana não deixa de considerar que Passos Coelho “fez um trabalho notável a conduzir o país num período de emergência nacional, tendo conseguido a ‘saída limpa’ que iniciou a recuperação económica”.
Foi a saída de Passos Coelho que fez com que deixasse a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para se candidatar à liderança do PSD.
O novo caminho que agora vai seguir é o de criar uma nova formação partidária liberal, para a qual ainda não tem nome escolhido.
“A política deve ser lutar por aquilo em que acreditamos ser o melhor para a comunidade de que fazemos parte. Sonho com um país em que a Cultura, o Ambiente, a Inovação, a Investigação, o Mar, sejam verdadeiras prioridades, orçamentalmente assumidas e, antes disso, assumidas na consciência nacional”, escreve, lançando as primeiras pistas sobre os assuntos pelos quais o seu partido se vai bater.
O objetivo de Santana Lopes é “contribuir para dar força à alternativa de que Portugal precisa para substituir a maioria de esquerda”.
“Quero intervir politicamente num espaço em que não se dê liberdade de voto quando se é confrontado com a agenda moral da extrema–esquerda”, diz Santana Lopes, que se manifestou, por exemplo, contra a liberdade de voto dada por Rui Rio aos deputados do partido na votação sobre a eutanásia.
Pedro Santana Lopes sublinha, ainda, que o caminho que e segue é o que o faz estar de bem com a sua consciência.
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