Ao líder partidário, Rui Rio, e ao secretário-geral do partido, José Silvano, a decisão foi comunicada na sexta-feira à tarde, por telefone, segundo o Observador.
Santana Lopes põe assim fim a 40 anos de militância no PSD, dos quais guarda recordações de “momentos únicos” e “extraordinários”, mas também de alguma desilusão, sobretudo por sentir que os seus discursos eram ouvidos, mas as suas ideias pouco atendidas.
Na carta de despedida, Pedro Santana Lopes considera: “não faz sentido continuar numa organização política só porque já estamos há muito, ou porque em tempos alcançamos vitórias e concretizações extraordinárias se, no passado e no tempo que importa, no tempo presente, não conseguimos fazer vingar ideias e propostas que consideramos cruciais para o bem do nosso país”.
Entre os exemplos que cita de ideias que defendeu, e das quais “o PSD nunca quis saber”, para a Política Agrícola Comum, a desertificação do interior ou ainda as críticas ao poder “discricionário” de demissão do Governo atribuído ao Presidente da República.
Recordando o episódio em que foi demitido de primeiro-ministro pelo então Presidente da República Jorge Sampaio, Pedro Santana Lopes reconhece que talvez se devesse ter desfiliado na altura, mas não deixa de apontar o dedo ao PSD.
“Quando destacadíssimos militantes do partido tudo fizeram para que Jorge Sampaio abolisse a maioria parlamentar legítima e estável por motivos que se 'absteve de enunciar'. Ou, no ano seguinte, quando o PSD impediu a recandidatura à Câmara Municipal de Lisboa que conquistáramos, a pulso, à maioria de esquerda, quatro anos antes”, especifica.
Para o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, todas estas decisões “graves” têm consequências políticas até hoje.
Na carta aberta, Santana Lopes pronuncia-se também sobre Rui Rio, criticando o “pensamento económico ortodoxo” e a “aproximação ao PS” e lembrando que deixou avisos durante as diretas.
“Vinha aí uma estratégia de condescendência para com o PS, para mim, um erro grave. Disse, e repeti, que os militantes deveriam rejeitar a via que, de modo mais ou menos explícito, admitia o Bloco Central”, escreve Santana Lopes, citado pelo Observador.
Em contrapartida, elogia Pedro Passos Coelho, de quem diz ser uma “pessoa com grandes qualidades, em vários domínios da vida” e que “como líder político mostrou ser sério, competente, coerente”.
Lembrando que nunca calou “diferenças” com o antigo primeiro-ministro, como “no congresso de 2014 e no dia da resolução do BES”, Santana não deixa de considerar que Passos Coelho “fez um trabalho notável a conduzir o país num período de emergência nacional, tendo conseguido a ‘saída limpa’ que iniciou a recuperação económica”.
Foi a saída de Passos Coelho que fez com que deixasse a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, para se candidatar à liderança do PSD.
O novo caminho que agora vai seguir é o de criar uma nova formação partidária liberal, para a qual ainda não tem nome escolhido.
“A política deve ser lutar por aquilo em que acreditamos ser o melhor para a comunidade de que fazemos parte. Sonho com um país em que a Cultura, o Ambiente, a Inovação, a Investigação, o Mar, sejam verdadeiras prioridades, orçamentalmente assumidas e, antes disso, assumidas na consciência nacional”, escreve, lançando as primeiras pistas sobre os assuntos pelos quais o seu partido se vai bater.
O objetivo de Santana Lopes é “contribuir para dar força à alternativa de que Portugal precisa para substituir a maioria de esquerda”.
“Quero intervir politicamente num espaço em que não se dê liberdade de voto quando se é confrontado com a agenda moral da extrema–esquerda”, diz Santana Lopes, que se manifestou, por exemplo, contra a liberdade de voto dada por Rui Rio aos deputados do partido na votação sobre a eutanásia.
Pedro Santana Lopes sublinha, ainda, que o caminho que e segue é o que o faz estar de bem com a sua consciência.
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