O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, começou o seu discurso por apresentar a cronologia da imprensa em Portugal, realçando que, nos últimos 60 anos, pelo menos 10 foram vividos sob censura.

Numa altura em que o 5.º Congresso dos Jornalistas tenta "encontrar soluções" para o futuro de um setor em crise, Marcelo não deixou o tema de fora.

À chegada ao Cinema São Jorge, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa cumprimentou trabalhadores do grupo de Global Notícias - que tem entre os seus acionistas um fundo sediado nas Bahamas de proprietários desconhecidos - que seguravam uma faixa "em luta pela defesa dos postos de trabalho", sem prestar declarações.

Na sua intervenção, depois de fazer um diagnóstico da situação do jornalismo em Portugal, o chefe de Estado afirmou: "Tudo isto torna inevitável, primeiro, que haja transparência no saber quem lidera e gere o quê na comunicação social, com que projetos editoriais, com que modelos, com que perfis e viabilidade de dar vida ao setor".

"Segundo, que os proprietários e gestores de meios, todos eles, mais os especialistas nas mudanças científicas, tecnológicas e sociais em curso estejam em constante convergência, interação e prospetivas estratégicas, formando uma plataforma de diálogo e de convergência que decisão com os jornalistas. Houve em certa altura alguns passos, mas pararam cedo de mais", acrescentou.

Segundo o Presidente da República, impõe-se que "o Estado – o que é diverso de quem em cada momento exerce funções em sua representação – não se alheie nunca de um debate essencial", porque "há meios públicos históricos e muito importantes" e porque "só numa base de entendimento amplo de forças e hemisférios doutrinais, ideológicos e políticos diferentes é possível abordar esta temática de regime".

De olhos postos na atualidade, o Presidente da República considerou ainda que "este tempo que se vive pode ser virtuoso, pode permitir debater pistas, propostas, projetos, horizontes".

O chefe de Estado entrou no 5.º Congresso dos Jornalistas acompanhado pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Henrique Araújo, e sentou-se ao seu lado antes de intervir.

Nesta sessão de abertura estiveram também a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e representantes de partidos com assento parlamentar.

À saída, em declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a esperança de que este congresso, "em tempo eleitoral", a menos de dois meses das legislativas de 10 de março, seja "um grande momento para se chegar a um entendimento amplo, eu diria de regime, quanto a medidas já experimentadas noutros países" de apoio ao setor da comunicação social.

"Há várias pistas possíveis, tem de ser por um acordo partidário muito amplo, tem de ser por regras gerais e abstratas, com um regime de grande independência e isenção, porque se não os governos eles próprios têm um bocado de puder em tomar qualquer iniciativa", considerou.

Problemas na Global Media dominam as preocupações do setor

“Tem de haver um antes e um depois deste congresso”, o jornalismo “chegou a um estado de exaustão e a seguir a este período só nos resta renascer”, pelo que além de fazer o “diagnóstico do estado” do setor, vai-se tentar “encontrar soluções em conjunto para o futuro do jornalismo em Portugal”, afirmou Pedro Coelho, presidente do Congresso, em declarações à Lusa, em 7 de janeiro.

Esta é uma “discussão que temos de enfrentar olhos nos olhos e, a partir do congresso, creio que com os jornalistas todos, com as diversas camadas de jornalismo – é uma profissão com gerações, salários, plataformas e interesses muito diversos – vamos tentar encontrar soluções para o futuro”, reforçou.

E as soluções passam por saber “como é que se financia um jornalismo livre num país com as características de Portugal nos 50 anos do 25 de Abril”, salientou.

O congresso arrancou às 18:00 de hoje com várias intervenções. “Na sequência da situação da Global Media Group [GMG] vamos fazer um extra – que não estava previsto – com depoimentos de elementos dos conselhos de redação dos órgãos” daquele grupo “e também de outras entidades que a Comissão Executiva [do congresso] considera estarem em situação de vulnerabilidade”, adiantou Pedro Coelho.

O acesso à profissão, a precariedade, as novas fronteiras do jornalismo – onde se inclui as novas abordagens tecnológicas como a inteligência artificial, entre outras – o jornalismo de proximidade e o financiamento do jornalismo são alguns dos temas dos painéis em discussão neste congresso.

“Vamos ter a abrir cada um dos painéis depoimentos de jornalistas precários”, revelou Pedro Coelho, um tema que é “uma preocupação do congresso”.

A Comissão Executiva do Congresso decidiu manter a inscrição dos profissionais com carteira profissional nos 20 euros, face aos despedimentos em massa e relatos de dificuldades financeiras, quando se vive “o período mais crítico” do jornalismo, segundo uma nota, divulgada em 4 de janeiro.