“Eu acredito que não podemos cumprir a Agenda 2030, os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, sem que exista uma participação ativa e determinada dos jovens”, disse Maria Fernanda Espinosa, numa entrevista à agência Lusa, por ocasião da sua visita a Portugal.
A diplomata e ex-ministra equatoriana, que foi eleita 73.ª presidente da Assembleia-Geral da ONU a 05 junho de 2018, iniciou na sexta-feira uma visita de três dias a Portugal para participar na Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude 2019 e no Fórum da Juventude “Lisboa+21”, que vai reunir até domingo na capital portuguesa centenas de responsáveis governamentais pela área da juventude, de jovens e de organizações internacionais.
À Lusa, a representante das Nações Unidas frisou que na atual pirâmide demográfica mundial a população que está entre os 16 e os 30 anos representa “a maior geração da história da humanidade” e, como tal, este grande grupo “tem de ter um envolvimento ativo e decisivo em combater a pobreza, a desigualdade, em construir instituições mais sólidas, em combater as alterações climáticas, em garantir a paz e a segurança”.
Para Maria Fernanda Espinosa, os jovens “não podem ser vistos como objetos de políticas, mas sim como sujeitos das tomadas de decisões, como atores decisivos no cumprimento da Agenda 2030”, lembrando a estratégia “Juventude 2030” lançada em setembro do ano passado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.
Nesse sentido, a antiga ministra dos Negócios Estrangeiros e da Defesa do Equador afirmou que durante o seu mandato como presidente da Assembleia-Geral da ONU, que irá terminar em setembro próximo, tentou “garantir que em todos os temas da agenda (da organização internacional) existisse uma voz dos jovens”.
“Não só ter jovens a falarem dos temas relacionados com os jovens, mas também ter jovens a falarem de todos os temas que têm a ver com direitos humanos, com paz e segurança, com os grandes reptos do desenvolvimento sustentável”, prosseguiu a representante.
“Os jovens têm um papel no presente, mas também têm um papel como construtores do futuro", acrescentou, relatando que durante o último ano, e como os jovens “têm de fazer parte do diálogo político, têm de fazer parte da tomada de decisões”, foram vários os encontros de alto nível em que as gerações mais novas estiveram no centro do debate e se sentaram ao lado de Presidentes, chefes de Governo ou de outros decisores.
Um desses casos, segundo a presidente da Assembleia-Geral da ONU, foi a recente conferência dos 100 anos da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra.
Maria Fernanda Espinosa sabe que na atualidade são muitas as áreas que pressionam esta geração.
A par das alterações climáticas, da violência, dos conflitos, da globalização e das novas tecnologias, a criação de trabalho, e especialmente de um “trabalho digno”, é um dos principais desafios que enfrentam os jovens.
Segundo dados publicados pelas Nações Unidas, mais de um quinto da maior população de jovens de sempre (cerca de 1,8 mil milhões de pessoas) não trabalha, não estuda ou não tem um grau de formação e um quarto é afetado por violência ou por conflitos armados.
“Para cumprir a Agenda 2030 precisamos de criar 600 milhões de novos empregos, o que quer dizer mais de 40 milhões de empregos por ano, e a maioria são para os jovens. Vincular o tema da quantidade com a qualidade do emprego, ou seja, um trabalho digno. Porque muitos dos jovens estão desempregados, mas há muitos jovens que apesar de trabalharem continuam ainda na pobreza”, disse Maria Fernanda Espinosa, admitindo que ainda “há muito trabalho para fazer” nesta área.
Um dos aspetos a aprofundar será sempre, segundo concluiu a representante, “ligar as políticas e as decisões internacionais, as grandes metas da Agenda 2030, com a realidade da vida dos jovens no seu país, no terreno, em espaços concretos”.
A equatoriana Maria Fernanda Espinosa é a primeira latino-americana e a quarta mulher a assumir o cargo de presidente da Assembleia-Geral em 73 anos de história das Nações Unidas.
Em setembro deixará o cargo, que passará a ser assumido pelo diplomata nigeriano Tijjani Muhammad-Bande.
(Por: Sofia Castro da agência Lusa)
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