"O projeto profissional a que esta direção se entregou, por mim liderada, nunca cedeu a motivação outra, que não a da causa de uma informação livre, isenta, plural e independente", refere a jornalista na carta enviada ao presidente da RTP, na qual pôs o lugar à disposição, a que a Lusa teve hoje acesso.
"Face à reiterada exposição pública de insinuações, mentiras e calúnias, à qual eu e a minha direção somos totalmente alheios, face aos danos reputacionais causados à RTP, considero não haver condições para a prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo, como tentámos realizar ao longo deste ano de mandato", sublinha Maria Flor Pedroso.
A diretora de informação cessante refere ainda que: "A construção de realidades alternativas a partir de meias verdades, da qual se alimenta um certo tipo de jornalismo no qual não me revejo, é um dos problemas da sociedade atual que precisa de um jornalismo vigoroso e rigoroso, livre e independente, isento e plural para robustecer as sociedades democráticas".
"Tinha a expectativa de que - quando aceitei o seu convite que muito me honrou - ao escolher uma direção de enorme valia profissional, diversa nos curriculuns, nas experiências e no género, formada por jornalistas com provas dadas da sua competência e rigor, de poder contribuir para prestigiar o serviço público de televisão e todos os que nele trabalham", acrescentou Flor Pedroso, que termina agradecendo ao presidente da RTP, Gonçalo Reis, "pela forma sempre leal e frontal" com que foram "ultrapassando os problemas que iam surgindo".
O Conselho de Administração da RTP anunciou hoje que Maria Flor Pedroso tinha posto o lugar à disposição por considerar não ter "condições para a prossecução de um trabalho sério", na sequência do conflito com a equipa do "Sexta às 9", coordenada por Sandra Felgueiras, tendo a administração aceitado por não ter "outra alternativa que não seja aceitar essa decisão".
A administração liderada por Gonçalo Reis agradece à profissional, destacando tratar-se de uma "jornalista de idoneidade e currículo irrepreensível" e apontando "o trabalho desenvolvido de forma dedicada, competente e séria enquanto diretora de informação de televisão da RTP".
O Conselho de Administração "acredita que a linha editorial que vinha a ser desenvolvida pela direção, assente num jornalismo objetivo e rigoroso, livre e independente, isento e plural é a matriz de um serviço público de excelência, em absoluto contraste com a crescente tendência para um jornalismo populista e sensacionalista que repudiamos veementemente e que é imperativo combater", lê-se no comunicado.
A administração liderada por Gonçalo Reis adianta que "nomeará em breve uma nova direção à qual continuará a exigir a implementação das melhores práticas, para que o jornalismo feito pela RTP seja o mais completo, o mais sério, o mais credível e o mais isento, ao total serviço do público".
Maria Flor Pedroso colocou o seu lugar à disposição na sequência do conflito entre a equipa do "Sexta às 9", o que levou o Conselho de Redação a convocar para hoje um plenário de jornalistas sobre o tema.
Em causa está um relato feito pela coordenadora do programa, em 11 de dezembro, numa reunião com o Conselho de Redação (CR) a propósito do programa sobre o lítio, em que adiantou que o "Sexta às 9" estava a investigar suspeitas de corrupção no âmbito do processo de encerramento do Instituto Superior de Comunicação Empresarial (ISCEM), que passava pelo alegado recebimento indevido de "dinheiro vivo".
Nesse âmbito, Sandra Felgueiras acusou Maria Flor Pedroso de ter transmitido informação privilegiada à visada na reportagem [diretora do ISCEM, Regina Moreira], o que a diretora de informação da RTP "rejeitou liminarmente", de acordo com as atas do CR e com a posição enviada à redação pela diretora de informação da RTP na passada sexta-feira, a que a Lusa teve acesso.
Na posição escrita sobre a "verdade dos factos", Maria Flor Pedroso garante que "nunca" informou a diretora do ISCEM sobre a investigação.
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