“Os salários em Portugal não aumentaram ao nível da inflação porque o senhor primeiro-ministro disse precisamente a mesma coisa que a senhora Lagarde está a dizer: é que não se pode aumentar salários porque isso cria uma pressão inflacionista”, respondeu Mariana Mortágua aos jornalistas durante a concentração de enfermeiros em frente ao Ministério da Saúde, em Lisboa.

Criticando que se viva “num reino de hipocrisia”, a líder do BE disse que viu “com muito espanto que, perante as declarações da senhora Lagarde, aparece o senhor primeiro-ministro a criticar a líder do BCE quando em Portugal faz precisamente isso, que é não aumentar os salários”.

“E é ainda mais espantoso que o senhor primeiro-ministro descubra agora que o problema da inflação são os lucros. Quando é verdade, são os lucros, mas o que fez o primeiro-ministro com a sua conclusão de que são os lucros que aumentam a inflação? Porque os salários não aumentaram e os lucros não estar a ser taxados nem os bancos obrigados a renegociar os créditos”, condenou.

Mariana Mortágua criticou ainda que, apesar das críticas a Lagarde, “quando é preciso votar a lei que aumenta os salários, que dá a carreira, que dá as condições de vida às pessoas, nem PSD nem PS votam” a favor.

“Se o senhor primeiro-ministro quer ser consequente com as declarações que faz só tem duas saídas: aumentar os salários do estado para compensar a inflação, taxar os lucros excessivos e obrigar os bancos a renegociar os créditos que neste momento estão a aumentar os seus lucros com o aumento das taxas de juro. Essa é a forma consequente de criticar as declarações da senhora Lagarde”, desafiou.

A líder do BE insistiu ainda no apelo que fez ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, – e do qual disse ainda não ter resposta — “para convidar Lagarde a vir ao parlamento para ouvir os representantes do povo português” sobre o problema da inflação.

A propósito das novas tabelas de IRS, Mariana Mortágua considerou “importante explicar que o Governo não está a baixar os impostos, está simplesmente a mudar a forma como eles são cobrados”.

“Não é uma medida de apoio às famílias. Alterar a tabela de retenção na fonte é uma medida superficial que não tem um impacto real na vida das pessoas e pode trazer alguns dissabores no futuro se as pessoas não estiverem conscientes de que reter menos agora quer dizer menos reembolso daqui a um ano”, avisou.