Se considerada culpada pela acusação de protesto ilegal, Marina Ovsiannikova poderá enfrentar dez dias de prisão. No julgamento, a jornalista declarou-se inocente, estando a sessão a decorrer no tribunal distrital de Ostankino, em Moscovo.
"Não reconheço a minha culpa", disse Ovsiannikova no tribunal, segundo um jornalista da AFP. "Continuo convencida de que a Rússia está a cometer um crime... e que é o invasor da Ucrânia", acrescentou.
Para já, a jornalista não foi imediatamente acusada do crime de publicar "informações falsas" sobre os militares russos, delito que prevê uma pena máxima de 15 anos de prisão e cuja aplicação decorre de uma lei aprovada recentemente, já durante o conflito.
Antes desta sessão, o seu advogado, Daniil Berman, chegou a considerar que a sua cliente corria o risco de ser condenada no âmbito dessa nova lei. "Há uma boa hipótese de que as autoridades decidam dar o exemplo para que outros críticos se calem", afirmou o advogado, explicando, na altura, que ainda não tinha conseguido reunir-se com a sua cliente.
Ovsiannikova, na casa dos 40 anos e com dois filhos, é natural de Odessa, na Ucrânia, e trabalha na emissora Pervy Kanal, muito próxima do poder russo.
Na noite de segunda-feira, irrompeu em pleno noticiário e ficou atrás da apresentadora com um cartaz que dizia: "Não à guerra, não acreditem na propaganda. Aqui estão eles a mentir-vos".
Num vídeo gravado antes de entrar no noticiário, Ovsiannikova explicou que o seu pai é ucraniano, e a sua mãe, russa, e que ela não suporta a disseminação de "mentiras" que transformam russos em "zombies".
Desde então, a sua conta no Facebook recebeu dezenas de milhares de mensagens de apoio. Hoje, um porta-voz do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, elogiou o seu gesto.
"Ela assumiu uma postura moral corajosa e ousou opor-se às mentiras e propagandas do Kremlin ao vivo e na televisão controlada pelo Estado", disse Peter Stano.
Também nesta terça, o governo francês declarou estar disposto a oferecer "proteção consular" à jornalista russa, anunciou o presidente Emmanuel Macron, que pediu que a Rússia esclareça a sua situação. Para já, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, limitou-se a apelidar o ato de "vandalismo".
"Vamos iniciar medidas para lhe oferecer proteção, na embaixada ou de asilo", disse Macron à imprensa, garantindo que vai propor isso ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, em sua próxima conversa por telefone.
Há semanas, o presidente francês tem vindo a tentar fazer uma mediação entre Putin e o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky: num primeiro momento, para evitar o conflito; e agora, para pôr fim a esta guerra.
A menos de um mês das eleições presidenciais em França, Macron declarou hoje que não descarta viajar para Moscovo, ou Kiev, mas que ainda não há "condições" para fazer essas viagens "nos próximos dias".
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