"A morte do doutor Mário Soares é um momento de profunda consternação para a generalidade dos portugueses. Foi indiscutivelmente uma das personalidades mais marcantes do século XX português", afirmou Cavaco Silva, numa declaração aos jornalistas no Convento do Sacramento, o gabinete de trabalho que ocupa desde que deixou a Presidência da República, em março de 2016.
Apesar de reconhecer que em alguns momentos da vida política foi um adversário de Mário Soares, Cavaco Silva destacou as suas capacidades de "verdadeiro animal político".
"Sempre reconheci as capacidades políticas do doutor Mário Soares, como se dizia, um verdadeiro animal político, como eu tive oportunidade de testemunhar várias vezes", disse.
E, continuou, apesar de adversários em alguns momentos, isso não impediu que tivesse apoiado a sua recandidatura a Belém em 1991 e que elogiasse o seu contributo decisivo para a defesa da liberdade e da democracia.
Contudo, acrescentou, este não é o tempo de lembrar discordâncias do passado, mas de reconhecer a importância do contributo do antigo chefe de Estado para a democracia portuguesa, o trabalho que desenvolveu para a defesa dos ideais democráticos e "reconhecer quanto Portugal deve ao político Mário Soares".
"O seu contributo foi decisivo para a defesa da liberdade, para a defesa da democracia em momentos conturbados da vida nacional. O doutor Mário Soares esteve na primeira linha revelando uma coragem extraordinária na defesa da democracia pluralista e lutando contra todas as forças de opressão, de ditadura, de totalitarismo", declarou.
Cavaco Silva, que se encontrava no Algarve e viajou para Lisboa quando teve conhecimento da morte de Mário Soares, lembrou igualmente a visão estratégica revelada pelo ex-Presidente da República sobre a importância para o futuro de Portugal da adesão às comunidades europeias.
Por isso, disse, hoje homenageia-se também um "europeísta convicto, um homem que dedicou a maior parte da sua vida à defesa dos ideais republicanos e dos ideais democráticos".
"Portugal deve-lhe muito, Portugal está de luto, os portugueses, todos os portugueses estou certo que hoje estão de luto, Portugal perdeu um dos maiores políticos do século XX", afirmou, transmitindo à família de Mário Soares as suas condolências e sentimentos de "profundo pesar".
Mário Soares morreu hoje, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado há 26 dias, desde 13 de dezembro.
O Governo decretou três dias de luto nacional, a partir de segunda-feira.
Soares desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria história da democracia portuguesa: combateu a ditadura, foi fundador do PS e Presidente da República.
Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares foi fundador e primeiro líder do PS, e ministro dos Negócios Estrangeiros após a revolução do 25 de Abril de 1974.
Primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, foi Soares a pedir a adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e a assinar o respetivo tratado, em 1985. Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
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