Vincando as "muitas décadas de convívio, amizade, partilha de valores e combates políticos" entre si e Soares, Vítor Constâncio quis passar no Mosteiro dos Jerónimos para prestar tributo "ao homem, ao cidadão, ao estadista, aquele que foi realmente o mais marcante na vida portuguesa no século XX, indiscutivelmente".
"Foi uma despedida emocional", disse ainda aos jornalistas o atual vice-presidente do Banco Central Europeu, que foi depois questionado sobre divergências políticas no passado, nomeadamente quando em meados da década de 1980 tentou - quando estava à frente do PS - formar executivo com o PRD.
"Ele era um homem livre, com convicções profundas, fez as suas críticas", assinalou Constâncio, que assevera que as "coisas muito ligeiras" e replicadas com "algum exagero" na imprensa foram resolvidas com Mário Soares, que morreu no sábado.
Constâncio falava aos jornalistas cerca das 21:00, numa altura em que voltavam a ser centenas as pessoas que faziam fila para prestar um último tributo ao antigo Presidente da República, depois de, pela hora do jantar, ter sido menor a afluência de populares.
Mário Soares morreu no sábado, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.
O Governo português decretou três dias de luto nacional, até quarta-feira.
O corpo do antigo Presidente da República está em câmara ardente no Mosteiro dos Jerónimos desde as 13:10 de hoje, depois de ter sido saudado por milhares de pessoas à passagem do cortejo fúnebre pelas principais ruas da capital com escolta a cavalo da GNR.
O funeral realiza-se na terça-feira, pelas 15:30, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, após passagem do cortejo fúnebre pelo Palácio de Belém, Assembleia da República, Fundação Mário Soares e sede do PS, no Largo do Rato.
Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.
Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
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