Mark Rutte, primeiro-ministro dos Países Baixos, apresentou um pedido de desculpas em nome do governo do seu país devido ao papel na escravatura, reconhecendo que o passado "não pode ser apagado, apenas enfrentado".
Esta intervenção de Rutte era bastante esperada, uma vez que iria abordar a participação da Holanda nos 250 anos de escravatura nas ex-colónias e surge em resposta a um relatório publicado em 2021 sobre este tema.
O que disse no pedido de desculpas?
"Hoje, peço desculpas em nome do governo holandês pelas ações do Estado no passado", disse Rutte durante o discurso em Haia. Não só aos escravos "que sofreram", mas também "às suas filhas e filhos e a toda a sua descendência".
"Nós, vivendo aqui e agora, apenas podemos reconhecer e condenar a escravatura nos termos mais claros como um crime contra a humanidade", detalhou.
Ao mesmo tempo em que Rutte pronunciava o seu discurso em Haia, vários dos seus ministros estiveram presentes nas ex-colónias de Bonaire, São Martinho, Aruba, Curaçao, Saba, Santo Eustáquio e Suriname para "discutir" o tema com os habitantes locais.
O que aconteceu no passado?
A escravatura ajudou a financiar a "Idade de Ouro" holandesa, um período de prosperidade devido ao comércio marítimo nos séculos XVI e XVII. O país traficava cerca de 600 mil africanos, principalmente para a América do Sul e para o Caribe.
No apogeu do seu império colonial, as Províncias Unidas, conhecidas atualmente como Países Baixos, tinham colónias como o Suriname, a ilha caribenha de Curaçao, a África do Sul e a Indonésia, onde a Companhia Holandesa das Índias Orientais tinha a sua sede no século XVIII.
A escravatura foi abolida no Suriname e noutros territórios controlados pela Holanda a 1 de julho de 1863, mas não terminou antes de 1873, depois de um período de "transição" de 10 anos.
Quando é que o tema voltou a ser discutido na atualidade?
Com o movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos, o debate voltou à tona nos Países Baixos, onde o racismo continua a atingir cidadãos das antigas colónias.
Assim, nos últimos anos, os Países Baixos começaram a lidar com o seu papel no tráfico de escravos e com a sua história colonial — sem a qual as cidades holandesas e os seus famosos museus, repletos de obras de arte de Rembrandt e Vermeer, não seriam os mesmos.
O que tem sido feito?
Antes de Rutte, as cidades de Amsterdão, Roterdão, Utrecht e Haia já se tinham desculpado pelo seu papel no tráfico negreiro.
Mas o primeiro-ministro mostrou-se reticente, por muito tempo, sobre fazer um pedido de desculpas oficial, ao afirmar anteriormente que a era da escravatura tinha ficado para trás e que essa declaração iria trazer de volta as tensões num país onde a extrema-direita se mostra cada vez mais forte.
Contudo, esta não foi a primeira vez que falou no tema. Em setembro, reconheceu "o sofrimento horrível infligido aos escravos" no Suriname, no final de uma visita de dois dias ao país sul-americano, antiga colónia neerlandesa até à sua independência em 1975.
O pedido de desculpas oficial foi bem recebido?
O pedido de desculpas de Rutte, em nome do governo, está a causar controvérsia, com grupos de descendentes e alguns dos países afetados a criticarem-no como "apressado".
Além disso, os ativistas referiram que um pedido de desculpas deveria vir do rei holandês, Willem-Alexander, e ser feito na ex-colónia do Suriname, a 1 de julho do próximo ano, quando se assinala o 150.º aniversário do fim da escravatura nesse território. Rutte defendeu-se: escolher o momento certo é um "assunto complicado" e "não há um momento certo para todos".
A primeira-ministra de São Martinho, Silveria Jacobs, tinha também dito, no sábado, que a ilha não iria aceitar as desculpas se as mesmas fossem apresentadas esta segunda-feira, data que já tinha sido avançada pela comunicação social.
No entanto, em Aruba, a primeira-ministra Evelyn Wever-Croes avançou à agência de notícias ANP que a ilha aceita as desculpas, mas enfatizou que isto é apenas "um primeiro passo".
* Com agências
Comentários