Em declarações à agência Lusa, o presidente de Junta da Ereira, Vasco Martins, resumiu a "preocupação" da população, argumentando que "existe um problema grave" com a vala de enxugo, por esta estar cheira de detritos e vegetação que praticamente impossibilita a normal circulação da água.
A vala em causa corre paralela ao rio e, em condições normais, deveria receber a água dos campos em redor - que no caso da Ereira se acumula há mais de 15 dias em frente à zona baixa da aldeia, mantendo cortado um acesso viário junto à praia fluvial ali existente - e canalizá-la até às comportas da estação de bombagem do Foja, onde entra no Mondego.
"Se voltar a chover ou vier outra cheia, há a grande possibilidade de haver uma inundação e desta vez ser primeiro na Ereira", alertou Vasco Martins, autarca daquela freguesia do distrito de Coimbra.
Ao longo de cerca de 2,5 quilómetros, entre a zona baixa da Ereira e a confluência com o chamado leito abandonado do Mondego, junto à estação de bombagem do Foja, a Lusa constatou que a vala, que tem cerca de três metros de profundidade, apresenta vários troços onde a água praticamente não circula, seja pela existência de ramos de árvores e vegetação variada, seja, no troço final, pela acumulação de jacintos-de-água, planta exótica invasora que transforma rios e ribeiros num imenso tapete verde.
O autarca diz que tem vindo a avisar as autoridades competentes para a situação - desde logo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), mas também a associação dos beneficiários da obra hidroagrícola do Mondego, entidades que, segundo Vasco Martins, são quem "pode intervir" no curso de água.
Na localidade, várias pessoas já se manifestaram disponíveis para colaborar na limpeza da vala, nomeadamente através da remoção de árvores e outra vegetação, adiantou.
Vasco Martins argumenta que esta seria "uma boa ideia", sempre com a "supervisão" da APA ou da associação de beneficiários: "As pessoas até podiam depois usufruir da lenha se assim o entendessem", ilustrou, lembrando o exemplo da autarquia da Figueira da Foz, que autorizou, em entendimento com a Capitania local, a remoção de restos de árvores das praias por parte dos cidadãos que assim o entendam, sem que estes sejam multados.
"Como a vala está é que não pode ficar. As manilhas [por onde a água circula nos pontões que atravessam o curso de água e por onde se chega aos campos agrícolas] estão cheias de detritos. É preciso limpar primeiro a vala para depois intervir nas manilhas, senão, não vale a pena. Sei que as autoridades estão preocupadas com a reposição do dique [que ruiu no rio Mondego, a montante, na zona de Santo Varão e que está a ser intervencionado] mas, se aqui não se fizer nada, vamos ter outra inundação não tarda", alertou Vasco Martins.
Os efeitos do mau tempo em dezembro de 2019 provocaram três mortos e deixaram 144 pessoas desalojadas e outras 352 deslocadas por precaução, registando-se mais de 11.600 ocorrências, na maioria inundações e quedas de árvores.
O mau tempo, provocado pela depressão Elsa, entre os dias 18 e 20 de dezembro de 2019, a que se juntou no dia 21 a depressão Fabien, provocou também condicionamentos na circulação rodoviária e ferroviária, bem como danos na rede elétrica, afetando a distribuição de energia a milhares de pessoas, em especial na região Centro.
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