Nesta prova difícil e longa, em que a profissão obriga algumas vezes a ficar longe da família, Leila Marques admite que o mais duro é não poder abraçar a filha assim que chega a casa.
“É duro, chegar a casa. Vê-la correr direito a mim de braços abertos e não poder abraçá-la logo”, explica, contando que o ritual diário passa por um banho e uma mudança total de roupa, antes de se poder juntar à família.
A trabalhar na Unidade de Saúde Familiar (USF) LoureSaudável, Leila Marques ainda não sentiu necessidade de se isolar da família – o marido e a filha Matilde -, que está em casa a cumprir o isolamento que tem sido pedido a todos.
“Estão os dois em casa, é complicado, mas tem de ser assim. Trabalho todos os dias e, obviamente, quando chego a casa, respeito todas as normas de segurança”, explica a médica de família, que participou nos Jogos Paralímpicos Atlanta1996, Sidney2000, Atenas2004 e Pequim2008.
Leila Marques, chefe da missão paralímpica aos Jogos Tóquio2020, que a pandemia obrigou a adiar para 2021, admite que na USF na qual trabalha ainda ponderaram “estabelecer um plano de resguardo, mas não foi possível, por isso estão todos a trabalhar”.
“Tal como foi pedido pela Direção-Geral da Saúde (DGS), cancelámos as consultas programadas não urgentes, mas há serviços que têm, naturalmente, de se continuar a manter, como as de saúde materna e o acompanhamento aos doentes crónicos”, explica.
A antiga nadadora paralímpica, que não tem o antebraço direito, lembra que “as pessoas confiam muito no seu médico de família” e, por isso, “houve muita procura dos serviços”, numa altura em que a própria linha de Saúde24 “não tinha mãos a medir”.
“Foi preciso criar uma via para doentes suspeitos da covid-19. Onde tentamos perceber muitas coisas, e resolver de imediato” explica, admitindo que é aí que se pode verificar o contacto mais direto com o novo coronavírus, responsável pela pandemia que “parou” o mundo.
A covid-19 adiou para o próximo ano um dos grandes desafios de Leila Marques, escolhida para ser a chefe da missão portuguesa nos Jogos Paralímpicos Tóquio2020.
“O adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos era uma decisão que tinha que ser tomada. Não havia condições para que se realizassem neste verão”, admite.
Habituada ao trabalho de preparação para as grandes competições, a antiga nadadora considera que o adiamento “tranquilizou os atletas”, que podem, agora, “rever os planos de preparação com as equipas técnicas, para depois, quando for possível começarem a trabalhar, e estarem fortíssimos para o ano”.
Aos 38 anos, Leila Marques acredita que toda esta situação criada pela pandemia, que começou na China e já causou mais de 157 mil mortos e infetou mais de 2,2 milhões de pessoas em 193 países e territórios, veio fazer com a sociedade em geral dê reconhecimento a várias classes profissionais.
“Com todas as notícias que vamos vendo, as pessoas dão mais valor aos profissionais de saúde e a uma série de gente que está ligada ao sistema de saúde”, refere, lembrando que “há muitas outras profissões e trabalhos que nestas alturas merecem todo o reconhecimento”.
Leila Marques compara mesmo este reconhecimento com o que é dado, muitas vezes, à grande maioria dos atletas e sobretudo aos paralímpicos: “Muitas vezes desconhecemos as realidades e só temos consciência disso quando surgem situações extraordinárias”.
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