No final de quase 15 horas de deliberação, Munyemana, de 68 anos, foi considerado culpado de genocídio, crimes contra a humanidade, participação numa conspiração com vista à preparação destes crimes, bem como por cumplicidade.
Munyemana fazia parte de um grupo “que preparava, organizava, comandava diariamente o genocídio dos tutsis em Tumba”, no sul do Ruanda, declarou o presidente do tribunal ao anunciar a condenação.
Ao participar no genocídio em Tumba, Munyemana “participou no genocídio em todo o Ruanda”, referiu o veredicto.
Depois do anúncio, os advogados do ruandês anunciaram de imediato a intenção de recorrer de “uma decisão inaceitável”.
“Nenhum elemento da defesa foi aceite, embora houvesse testemunhos extremamente contraditórios que deixassem muito espaço para dúvidas”, disseram Florence Bourg e Jean-Yves Dupeux.
Os advogados lamentaram que Munyemana, que vive no sudoeste de França desde setembro de 1994, tivesse sido descrito em tribunal “como planeador” de um genocídio. “Tudo o que ele fez para salvar os tutsis saiu pela culatra”, disseram.
O Ministério Público francês tinha pedido ao tribunal uma pena de 30 anos de prisão, sublinhando que “a soma das escolhas de Sosthène Munyemana” entre abril e junho de 1994 “representa os traços de um genocida”.
Sosthène Munyemana é suspeito de ter desempenhado um papel nos massacres, ao assinar uma moção de apoio ao governo interino estabelecido após o ataque ao avião do Presidente hutu Juvénal Habyarimana, que incentivou os assassínios cometidos entre abril e julho de 1994.
De acordo com a ONU, este genocídio deixou mais de 800 mil vítimas, a maioria da etnia tutsi.
O médico também é acusado de ter montado barreiras e patrulhas em Tumba, na prefeitura de Butare, nas quais as pessoas foram presas antes de serem mortas, bem como de ter usado a chave de um escritório do setor onde os tutsis foram presos antes de serem mortos.
Ao longo das cinco semanas de audiências e debates no Tribunal de Justiça, Sosthène Munyemana nunca deixou de contestar as acusações, alegando ter sido um hutu moderado e que “tentou salvar” tutsis, oferecendo “refúgio”.
“O importante está feito, é a condenação”, comentou o cofundador do Coletivo de Partidos Civis de Ruanda, Alain Gauthier.
“Está um pouco abaixo do pedido, mas ainda assim é considerado culpado de crimes contra a humanidade e genocídio”, sublinhou.
Seis homens já tinham sido condenados em França pela participação no genocídio dos tutsis, com penas entre 14 anos de prisão e prisão perpétua. Dois deles apresentaram recurso e aguardam novo julgamento.
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