Tratamentos domiciliários de enfermagem e outros serviços de saúde não foram realizados durante vários dias na região Centro por falta de seguro das viaturas da Administração Regional de Saúde (ARS), informaram na terça-feira dois sindicatos e uma associação profissional.
Hoje, em comunicado enviado à agência Lusa, a Ordem dos Médicos diz ser “chocante e incompreensível a atual gestão protagonizada pela Administração Regional de Saúde do Centro, que não consegue acautelar as necessidades básicas de funcionamento das unidades de cuidados de saúde primários”.
“Quem não consegue resolver problemas tão básicos estará à altura de tão importante e complexa missão de organizar os serviços de saúde da região Centro? Duvidamos disso”, diz o presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), Carlos Cortes, citado na nota.
Este responsável diz ainda que os “agrupamentos de Centro de Saúde do Centro foram informados que não teriam o habitual fornecimento de medicamentos e outros artigos porque a frota automóvel estava sem seguro”.
“Os tratamentos urgentes foram efetuados com viaturas dos próprios profissionais de saúde. É o total desrespeito pelos doentes. Inúmeros profissionais utilizaram as viaturas pessoais porque não se conformaram com a falta de prestação de cuidados de saúde aos doentes só porque não havia viatura de serviço. Somos confrontados, logo no início do ano, com a incompetência e o desrespeito pelos profissionais de saúde e pelos doentes”, conclui o dirigente.
A Administração Regional de Saúde do Centro confirmou na tarde de terça-feira que o problema se verificou, nos primeiros dias do ano, mas que já foi resolvido.
Em comunicado, o instituto público presidido por Rosa Reis Marques informou naquele dia que a frota automóvel “se encontra já dotada do respetivo seguro”.
“Isto é que cria desrespeito pelo serviço público”, disse à agência Lusa na terça-feira o presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar (USF-AN), João Rodrigues, ao confirmar que o problema se verificou desde sexta-feira.
No Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) da Cova da Beira, por exemplo, a frota automóvel tem estado parada e várias extensões de saúde “sem apoio de enfermagem” e administrativo, segundo disse na terça-feira o Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas.
“Todas as viaturas estão estacionadas”, afirmou então, indicando que “os domicílios urgentes são feitos de táxi, as deslocações às extensões de saúde são nalguns casos asseguradas em viatura dos próprios trabalhadores e outras ficam sem assistência por falta de administrativo ou de enfermeiro, que não têm forma de se deslocar”.
Num comunicado divulgado na terça-feira pela União dos Sindicatos de Castelo Branco, aquele sindicato refere que tal situação resultou de uma “ordem da presidente da ARS”, Rosa Reis Marques, que tomou posse em dezembro, sucedendo no cargo a José Tereso.
O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) também divulgou na terça-feira, na sua página da Internet, uma nota intitulada “O inconcebível na ARS Centro”.
Os ACES Centro “foram esta segunda-feira confrontados com este aviso: ‘aproveito para informar que hoje não há o fornecimento mensal dos medicamentos e outros artigos, pelo facto de toda a frota da ARS Centro (…) estar parada por falta de seguro automóvel”, afirma.
“Do mesmo modo, ficaram por fazer hoje os tratamentos domiciliários de enfermagem efetuados em viaturas de serviço em todos os ACES”, acrescenta o SIM.
Na nota enviada à Lusa, na tarde de terça-feira, o Gabinete de Relações Públicas da ARS explica que “o processo inicial, aberto ainda em 2017, para aquisição do seguro, ficou sem efeito, dado que todas as propostas apresentadas foram excluídas, tendo sido necessário abrir novo concurso”.
A Administração Regional de Saúde “providenciou o recurso a meios de transporte alternativos, não se tendo verificado nenhuma situação de rutura em nenhum ACES” da região Centro.
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