“Sabemos que os responsáveis políticos e governamentais tudo farão para descredibilizarem os médicos e a sua luta. Tudo farão para intoxicarem a opinião pública e a comunicação social com mentiras e mitos sobre esta privilegiada classe”, escreve o sindicato.
Numa carta publicada na imprensa e que dizem funcionar como “guia anticalúnia”, o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) explica que convocou uma greve para o dia 2 de julho (o dia 3 foi convocado pela Federação Nacional dos Médicos) porque “o rol de queixas” destes profissionais “é vasto”.
“Os médicos vão fazer greve como forma de protesto público contra a degradação do trabalho e contra a degradação do Estado Social e do Serviço Nacional de Saúde, motivada por anos de despesismo incontrolado e doloso de sucessivos governos e legislaturas, afirma o SIM.
Na carta aberta, o sindicato explica que os médicos recorrem mais uma vez à greve porque “se fartaram de ser interlocutores empenhados de um Governo e um Ministério da Saúde que agem com deliberado desrespeito e sem real interesse em chegar a acordo sobre uma imensidade de questões”.
Tentando desmistificar e desmentir as “esperadas calúnias” os médicos defendem que não são uma classe privilegiada, explicando que singraram no mestrado “mais longo e mais exigente (seis anos) de acesso mais difícil e seletivo (médias acima de 18)”, que se entregaram “52 horas por semana ao seu internato médico de especialidade (que dura 4 a 6 anos)”, ao mesmo tempo em que “tentam ter vida familiar e social”.
“A verdade é que, se tudo correr bem, um médico será especialista depois dos 30 anos de idade”, recorda.
Sobre os salários, o SIM lembra que “um médico funcionário público que trabalhe num grande hospital e que seja Assistente Graduado, um Cirurgião Cardiotorácico com 15 anos de especialista, por exemplo, ganha o horror de 3.621,60 euros, ilíquidos por mês, para uma semana de trabalho de 40 horas, com as progressões bloqueadas desde 2005 e só em 2018 parcialmente desbloqueadas”.
“Claro que há quem ganhe mais. À custa de trabalho em Serviço de Urgência, às 24 horas de cada vez, fazendo perigar a sua saúde, a sua estabilidade familiar e social e, mais grave, o atendimento correto que os doentes merecem, ou também à custa do muito trabalho em Medicina privada ou, o que é ainda mais comum, à custa do múltiplo emprego”, sublinha.
“A verdade é que a maior parte dos médicos nos hospitais aufere menos do que 2.000 euros líquidos”, acrescenta.
O sindicato desmente ainda que os médicos sejam os funcionários públicos que mais ganhem, dizendo que “um médico pode aspirar a ganhar, no final da sua vida ativa e depois de múltiplos exames e provas públicas, o que um senhor juiz ou um senhor magistrado ganham ao fim de sete anos de exercício num Tribunal ou Comarca de 1.ª Instância”.
“Um médico nunca chegará ao vencimento de um professor universitário”, afirma.
Sobre as carreiras, escreve que “os médicos aceitam e defendem que só alguns devem chegar ao topo da carreira”, e que esses serão “os mais bem preparados e os com melhor curriculum técnico”, mas lembram que os concursos para Assistente Graduado Sénior abrem “a conta-gotas” e que “muitos serviços de saúde estão já a ser dirigidos por Assistentes sem graduação”.
Lembra que “a graduação do médico é o sistema português de validação de competências interpares” e que “é desta validação que depende a formação dos médicos mais novos nos internatos de especialidade”.
A propósito da “acusação constante” de que “os médicos se encobrem uns aos outros”, o SIM defende que “quanto mais os médicos exigem para si em termos técnicos mais defendidos estão os doentes” e que “a responsabilidade médica é intransmissível e os seguros existentes, pagos pelo próprio médico e não pelo empregador, nunca ilibam a má prática (crime)”.
Sobre o reconhecimento do trabalho dos médicos, o SIM recorda que as Entidades Públicas Empresariais preferem contratar via prestação de serviços pois poupam nos vencimentos e na taxa social única” e que isso levou a um aumento dos custos com a prestação de serviços médicos.
“O facto é que os médicos mais novos, que acabam a Especialidade (uma formação paga e bem paga com o seu trabalho árduo), ficam a receber como internos e a ter responsabilidade como Especialista nas Unidades de Saúde do estado, por vezes durante um longo período de tempo” e/ou “emigram para onde o seu trabalho é reconhecido” ou “entram no esquema do trabalho à tarefa”.
Sublinham que serão “escrupulosamente cumpridos” os serviços mínimos e garantem que, durante a greve, serão prestados os cuidados e atos de quimioterapia e radioterapia, diálise, urgência interna, os atos indispensáveis para a dispensa de medicamentos de uso exclusivamente hospitalar, recolha de órgão para transplantes e cuidados paliativos em internamento.
Os dois sindicatos médicos convocaram uma greve para dias 2 e 3 de julho, terça e quarta-feira, sendo o primeiro dia agendado pelo Sindicato Independente dos Médicos e o segundo marcado pela Federação Nacional dos Médicos, que também promove na quarta-feira uma manifestação junto ao Ministério da Saúde, em Lisboa.
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