A sentença foi proferida em 29 de dezembro por um tribunal militar em Buea, no oeste dos Camarões, mas até agora não tinha sido divulgada publicamente.

As províncias do noroeste e do sudoeste, povoadas principalmente pela minoria camaronesa de língua inglesa, têm sido palco há seis anos de um conflito mortal entre rebeldes separatistas e as forças de segurança.

Os dois lados são regularmente acusados ??por organizações não-governamentais internacionais e pela ONU de crimes e abusos, inclusive contra civis.

Em 27 de dezembro de 2021, dois membros do pessoal camaronês dos MSF foram detidos num posto de controlo rodoviário após tratarem de um rebelde com ferimentos de bala e cujo estado de saúde exigia “assistência urgente”, segundo aquela ONG.

Os funcionários foram então detidos em Buea, principal cidade da região sudoeste do país.

Dois outros funcionários camaroneses dos MSF foram detidos posteriormente e um quinto, de nacionalidade indiana, era procurado, mas nessa ocasião já tinha saído do país.

“Os cinco foram absolvidos com o benefício da dúvida”, em particular da acusação de “cumplicidade na secessãono passado dia 29 de dezembro”, disse à AFP o advogado Edouard Essono.

“Os MSF sempre defenderam as ações dos seus funcionários e negou categoricamente qualquer cumplicidade com grupos armados ou partes em qualquer crise ou conflito violento”, comentou aquela ONG, confirmando por escrito à AFP a absolvição dos seus funcionários, entre os quais se incluem duas mulheres.

Dois dos arguidos foram libertados sob vigilância judicial em maio de 2022, um em novembro e o último foi libertado a 30 de dezembro, no dia a seguir ao julgamento.

Em julho de 2022, os MSF anunciaram o fim das suas atividades no sudoeste e não disse se pretendia ou não retomá-las após a absolvição.

No final de 2020, o governo suspendeu as operações dos MSF na província vizinha do noroeste, acusando as suas equipas médicas de “conluio” e “cumplicidade” com grupos separatistas armados.

Os civis são as principais vítimas do conflito que já matou mais de 6.000 pessoas e forçou mais de um milhão a abandonar as suas áreas de residência desde o final de 2016, segundo o International Crisis Group (ICG).

O Presidente Paul Biya, de 89 anos, que governa os Camarões, um vasto país da África Central, com mão de ferro há mais de 40 anos, enviou um grande número de soldados e polícias para combater grupos separatistas.