"É um momento histórico para Medjugorje porque o enviado especial do papa é como se fosse o próprio papa. É a primeira vez em 36 anos. Significa que o papa tem Medjugorje no coração e que se interessa pelos peregrinos que vêm aqui", explicou o repórter do diário croata Vecernji list, em referência à chegada do arcebispo polaco Henryk Hoser, no final de março, numa missão de "avaliação pastoral".

Questionado sobre o que explica a vinda de tantos peregrinos a Medjugorje, Davor Pavicic falou em "mistérios" e sublinhou que "a guerra não chegou aqui e não há razões históricas que o expliquem porque a guerra estava a poucos quilómetros".

"Acredito que Medjugorje é autêntica como os santuários de Fátima e Lourdes. Basta ver que uma pessoa que não acredita em Deus, vem aqui e passa a acreditar. É um mistério. Porque é que alguém que não se confessou durante 40 anos chega aqui e confessa? É um mistério. Porque é que alguém alcoólico durante 30 anos sobe a colina das aparições e depois deixa de tocar no álcool? É um mistério", considerou.

Laurence Lovric, guia oficial da paróquia - depois de ter tido, inclusivamente, uma formação junto dos padres franciscanos sobre "o catecismo, a bíblia, os eventos de Medjugorje, a história da Igreja e desta região em geral" - também concorda que a presença de um enviado do papa é um momento histórico.

"O que atrai tantos peregrinos aqui é o facto de a Virgem continuar a aparecer, o que deve dar mais graças que os locais onde ela parou de aparecer. Os peregrinos sentem-se bem aqui porque eles sentem que recebem sensações de paz, de reconciliação e de regresso à Igreja", descreveu a cidadã belga que mora em Medjugorje desde 1999.

O padre Tomislav Perlan explicou, por escrito, à Lusa que "é normal que se deseje" o reconhecimento do Vaticano e que, apesar de os bispos locais terem "negado repetidamente" as "aparições" de Medjugorje, "isso não teve qualquer efeito sobre os crentes e os peregrinos".

"A igreja tem uma longa história, uma longa experiência e, por isso, não se apressa no seu julgamento. Se os videntes ainda têm aparições, então a igreja vai esperar pelo fim destas aparições para dar um julgamento final", escreveu o franciscano, lembrando que "dezenas de milhões de peregrinos vieram a Medjugorje".

O bispo Ratko Peric, da diocese de Mostar que engloba Medjugorje, é um dos que se opõe às "aparições", mas não quis prestar declarações à Lusa, argumentando que "tudo o que havia a dizer já foi publicado" e remetendo para a longa mensagem publicada no 'site' da diocese na qual afirmava que "não é possível concluir que houve aparições ou revelações sobrenaturais".

Depois da Igreja de Santiago, a "colina das aparições" é dos primeiros locais que os peregrinos vão visitar, subindo pela encosta, alguns descalços, outros com a ajuda de um cajado, e parando em cada estação da via-sacra para rezar.

Os cânticos ecoam na colina em diferentes línguas e, ao chegar perto da estátua branca da Virgem, os peregrinos calam-se, recolhem-se, ajoelham-se ou sentam-se nas rochas e respeitam o painel que pede silêncio em croata "Tisina Silentium".

Logo ao segundo dia, Maria do Carmo Vieira de Almeida Mortágua, de 69 anos e aposentada, foi à "Colina das Aparições", indo a Medjugorje há nove anos para "carregar baterias" porque é "um cantinho do céu".

"A primeira vez que vim fiquei fascinada e senti o que não sentia nem em Fátima nem em Lourdes, que também gostei imenso, e senti-me muito bem. Mas aqui é um lugar especial, um lugar muito especial, muito santo. Uma pessoa está aqui muito recolhida, reza, e a pessoa fica bem, sente logo uma paz muito grande", afirmou.

Davor Ljubic é proprietário de uma agência de viagens há 28 anos em Medjugorje e acompanhou o aumento do número de peregrinos, considerando que "o reconhecimento do Vaticano pode ajudar, mas não tanto quanto as pessoas pensam".

"Não é importante o reconhecimento do Vaticano porque os crentes virão com ou sem a aprovação do Vaticano. O que pode ser reconhecido é que aqui as pessoas abrem-se a Deus, muitos padres dizem que é um confessionário a céu aberto. Milhões de pessoas confessaram-se aqui pela primeira vez, muitos converteram-se", declarou.

A vila de Medjugorje, na zona croata da Bósnia, ficou mundialmente conhecida em 1981, com “aparições” marianas regulares a seis crianças nascidas nos arredores da localidade.

Na ocasião, Nossa Senhora ter-se-á apresentado como “rainha da paz" e, desde então, terá aparecido sucessivas vezes aos seis videntes, um fenómeno que se repete, pelo menos, todos os meses.