A participação registada na votação não oficial foi elevada, apesar dos avisos das autoridades de que quem participasse poderia estar a violar a nova lei de segurança imposta por Pequim ao antigo território sob administração britânica.
De acordo com os organizadores, no encerramento das urnas, às 21:00 locais de domingo, mais de 580.000 pessoas tinham votado nas 250 mesas de voto não oficiais, um número superior ao esperado pelos organizadores.
“Sob ameaça da Lei de Segurança Nacional, quase 600.000 pessoas vieram e votaram – é aí que se vê a coragem do povo de Hong Kong”, insistiu um dos organizadores, o antigo deputado pró-democracia Au Nok-Hin.
Dois dias antes, a polícia invadiu os escritórios de uma instituição envolvido na organização da votação.
Os resultados das primárias são esperados na segunda-feira à noite, após a contagem completa dos votos. Os candidatos nomeados concorrerão, nas eleições de setembro, a lugares no LegCo, o conselho legislativo da cidade, com 70 membros.
Na quinta-feira, Erick Tsang, responsável pelos assuntos constitucionais e continentais, avisou os que “organizam, planeiam e participam” nas primárias de que era provável que cometessem delitos ao abrigo da nova lei.
“O povo de Hong Kong voltou a fazer milagres e disse ao mundo que o campo pró-democracia pode atrair tantas pessoas para votar”, sublinhou Au Nok-Hin.
Pequim aprovou em 30 de junho uma lei de segurança nacional imposta a Hong Kong para reprimir a subversão, secessão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras, em resposta aos movimentos de protesto que tem visado o governo central daquele território semi-autónomo.
Esta lei representa a medida mais radical para Hong Kong, desde que o Reino Unido entregou o território à China, em 1997. Os ativistas pró-democracia em Hong Kong receiam uma devastação sem precedentes das liberdades e autonomia concedidas à antiga colónia britânica.
A polícia invadiu o PORI (Public Opinion Research Institute), um instituto de sondagem independente, envolvido na organização da votação das primárias, na sexta-feira à noite.
Segundo a polícia terão agido após terem recebido informações de que os computadores do PORI tinham sido violados, o que resultou na fuga ilegal de dados pessoais.
As buscas suscitaram preocupação sobre a possibilidade de realização das primárias, mas o presidente do PORI, Robert Chung, disse no sábado que o sistema de votação era seguro e que as operações eram legais e transparentes.
“As eleições primárias são uma abordagem pacífica, racional e não violenta para expressar a opinião pública”, concluiu.
No sábado, milhares de pessoas já tinham feito fila ao calor do verão, fora das mesas de voto não oficiais, para votarem.
“Quanto mais oprimido é o povo de Hong Kong, mais ele resiste”, disse então o ativista pró-democracia Benny Tai, professor de Direito e coorganizador das primárias, que estava a votar numa das 250 mesas de voto.
De acordo com os organizadores, quando as mesas de voto fecharam no sábado, também às 21:00 locais, 230.000 pessoas tinham votado, mais do que o esperado. E a votação continuou por todo o dia de hoje.
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