A chanceler alemã, de 64 anos, anunciou hoje que não se recandidatará à presidência do seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), e que este é o seu último mandato como chefe do governo alemão.

“Ela não obedece aos princípios de personalização do poder que existem em outras democracias. Acho que é uma lição de humildade institucional e acho que é um bom exemplo”, afirmou, em declarações à agência Lusa via telefone, o professor universitário e investigador de ciência política José Adelino Maltez.

“Acho que é uma boa lição de democracia a não existência de personalização do poder”, reforçou.

Após 13 anos na liderança da Alemanha (é chanceler desde 2005) e de 18 anos no comando dos democratas cristãos (presidente da CDU desde 2000), Merkel anunciou a sua futura saída dos holofotes políticos um dia depois das eleições regionais no Estado federado de Hesse (centro).

A CDU de Merkel ganhou no domingo as eleições com 27% dos votos, mas obteve o seu pior resultado na região nos últimos 50 anos.

Também viu os social-democratas de centro-esquerda (o SPD, parceiros da coligação governamental) perderem terreno e presenciou a extrema-direita alemã (Alternativa para a Alemanha - AfD) a conquistar representação naquele parlamento regional.

Questionado se a decisão de Merkel, e estas mutações no cenário político alemão, podiam ser interpretadas como um fim de uma era, José Adelino Maltez frisou que os alemães são “sistémicos” e que “não há aqui nenhum abandono do sistémico”.

“A lógica alemã é a lógica do sistema (…) Isto não significa uma quebra eleitoral, isto significa uma nova era de desafio perante a AfD”, prosseguiu.

“Se há sítio onde eu não espero turbulência de maior é na República Federal da Alemanha, mesmo com o fim da senhora Merkel”, reforçou o politólogo, afirmando mesmo não estar pessimista quanto ao cenário político futuro.

José Adelino Maltez também adota uma postura não pessimista em relação às repercussões da decisão de Merkel na União Europeia (UE), afirmando que “quem vier vai funcionar como um relógio”.

“Não sou nada pessimista quanto à turbulência. A Alemanha é uma certeza, seja com Merkel seja sem Merkel (…) A Alemanha vai continuar a ser a imperatriz na máquina europeia, não tenho dúvidas absolutamente nenhumas”, concluiu.