Mais de quatro meses após as legislativas de setembro, que deixaram a primeira economia da Europa sem uma maioria, os conservadores da CDU/CSU procuram soluções sobre a saúde, o trabalho, a Europa e a segurança social para convencer um SPD reticente em renovar por mais quatro anos a grande coligação, ou GroKo, em fim de mandato.

Em negociações desde o início de janeiro, os dois campos retomaram os debates esta manhã e definiram como objetivo um compromisso para o final da tarde, mas com a opção de prolongar as discussões para segunda e terça-feira.

"O acordo de coligação toma forma a pouco e pouco", comentou no sábado à noite um membro do partido de Merkel, Michael Grosse Broehmer. Segundo o próprio, todas as partes "têm a intenção de respeitar o calendário".

Cerca de 71% dos alemães dizem não compreender por que a "formação do governo está a demorar tanto tempo", segundo uma sondagem da televisão pública ARD.

Se Merkel fracassar, deverá se resignar e iniciar o seu quarto mandato de chanceler com um instável governo minoritário, ou aceitar a realização de novas eleições, correndo o risco de perder ainda mais espaço para a extrema-direita.

O SPD, que recebeu apenas 20,5% dos votos nas legislativas e está em queda nas sondagens desde então, está dividido. Muitos no partido querem que o seu líder, Martin Schulz, respeite a sua promessa de uma viragem à esquerda e que não avance nas negociações com Merkel.

Os militantes têm a última palavra sobre um eventual acordo, através de um voto postal.

O chanceler não está, portanto, numa posição confortável. Parte da sua família conservadora pede um posicionamento mais à direita para travar a extrema-direita, enquanto há a necessidade de um compromisso com os social-democratas, sob pressão da ala à esquerda.

Parte da imprensa alemã também é intransigente em relação aos dois partidos que, em conjunto ou alternadamente, dirigem a Alemanha desde 1949.

O Süddeutsche Zeitung denuncia uma procura pelo "menor denominador comum" para fundar um GroKo "sem orientação".

"Eles são hesitantes, mas, acima de tudo, não têm inspiração", afirma o jornal, que pede a Merkel e a Schulz que se juntem ou "deixem o caminho aberto para outros líderes ou eleições" antecipadas.

Mas para alguns, uma eleição antecipada é muito arriscada, já que o SPD está enfraquecido. É a extrema-direita que sai em vantagem neste cenário, considerando que os 13% dos votos recebidos em setembro pela Alternativa para a Alemanha (AfD), um recorde, já complicam a procura pela maioria capaz de viabilizar um governo. Este partido de extrema-direita ganhou força graças às preocupações geradas pela abertura do país a mais de um milhão de requerentes de asilo desde 2015.

Antoine Lambroschini / AFP