Realizado entre 20 e 30 de março pela Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal (AIMMP), junto de 74 empresas do setor (das quais 17,6% de média dimensão, 45,9% pequenas empresas e 36,5% micro empresas), o inquérito conclui que “os empresários estimam que a situação vai piorar progressivamente”, aumentando o seu pessimismo ao longo dos três períodos temporais traçados (15 de março, 15 de maio e 15 de agosto).
Assim, se ainda há algumas empresas que preveem um aumento das vendas no curto prazo, “a 15 de agosto nenhuma delas admite esse cenário” e 62,7% antecipa mesmo uma redução de mais de 20% ou 40% da faturação (30,7% antecipa quebras de 20% a 40% e 32% perspetiva uma diminuição superior a 40%).
Neste contexto, nos meses de abril e maio cerca de 50% das empresas inquiridas dizem que vão recorrer ao ‘lay off’ parcial ou total e apenas cerca de 35% não prevê aceder a qualquer das medidas de apoio ao emprego criadas pelo Governo.
As perspetivas dos empresários deterioram-se quando questionados sobre a evolução da liquidez, o que a AIMMP considera “preocupante” devido aos problemas e dificuldades que daí decorrem “quer em matéria de risco, quer de litígios e de registos de mora no Banco de Portugal, que atrapalham o desenvolvimento das empresas e o investimento”.
Do inquérito resulta ainda que “mais de 60% das empresas demonstrou a intenção de laborar a, pelo menos, 50% da sua capacidade instalada durante os próximos dois meses”.
“Realçamos o facto de atingirmos o pico de empresas a laborar a 25% da sua capacidade instalada em 15 de abril e o pico de empresas absolutamente paradas, sem qualquer produção, em 30 de abril, sendo que algumas delas perspetivam reabrir timidamente a 31 de maio”, nota a associação.
“Em qualquer dos casos – acrescenta - 38% das empresas inquiridas perspetivam a 31 de maio estar encerradas ou em laboração inferior a 25% da sua capacidade instalada e 66% das empresas inquiridas estará a laborar abaixo de 50% da sua capacidade instalada, o que realmente é um cenário catastrófico”.
No que se refere ao impacto estimado no emprego, o inquérito aponta que, dos cerca de 50.000 postos de trabalho diretos assegurados pelo setor, perto de 17.900 estarão a 30 de abril “brutalmente afetados com esta crise”, já que “dependem de empresas que estarão encerradas nesta data, ainda que com recurso a ‘lay-off’ total”.
“Esta análise poderá ser extrapolada para as empresas que estarão em produção parcial, abaixo dos 25% e abaixo dos 50%, o que realmente resulta num cenário absolutamente dantesco para o setor à data de 30 de abril”, considera a AIMMP.
Questionados sobre os desafios que antecipam para os próximos seis meses, os empresários destacam a gestão de tesouraria, liquidez e recebimentos, as quebras na cadeia de fornecimento e abastecimento, a redução abrupta de encomendas, a suspensão de obras e a incerteza.
Já quanto aos apoios e medidas defendidas, apontam como “medidas mais urgentes e estruturais a tomar pelo Governo” o lançamento de linhas de crédito com juro zero, com um período de carência de pelo menos um ano e um prazo nunca inferior a quatro anos, assim como uma moratória de pelo menos seis meses para os créditos em curso.
Reclamam ainda “um modelo de financiamento das empresas com recurso reforçado à garantia mútua” e menor peso dos critérios de risco dos bancos, a agilização do pagamento de incentivos ao abrigo do programa Portugal 2020 e o aumento da taxa de comparticipação dos incentivos para redução das necessidades da componente privada.
Outra das medidas defendidas é a alteração de regulamentos e de eixos de investimento/elegibilidade “no sentido do maior direcionamento dos fundos comunitários para a fixação de mão-de-obra qualificada, criação e desenvolvimento de fatores críticos de competitividade, promoção das exportações/internacionalização e aproveitamento dos recursos naturais”.
A identificação de produtos e recursos importados pela economia portuguesa “que sejam passíveis de serem fornecidos e/ou produzidos ou explorados em Portugal, ainda que com recurso a utilizações alternativas, de forma a reduzir as importações e a dinamizar o mercado nacional” é outra das propostas avançadas, a par da isenção do pagamento de Segurança Social nos próximos seis meses e do fornecimento de equipamentos de proteção individual às empresas em laboração.
O “apoio às empresas para manutenção dos postos de trabalho, com valores apurados periodicamente entre o valor faturado e o número de postos de trabalho efetivos assegurados relativamente ao valor apurado no mês de fevereiro de 2020” é outra das propostas avançadas pelos empresários, assim como a “regularização urgente das dívidas do Estado, autarquias e outros institutos públicos aos seus fornecedores” e a promoção de programas de obras públicas para o relançamento da economia.
As medidas defendidas passam ainda pela redução do valor das portagens pagas pelos veículos de transporte de mercadorias para valor igual ao de veículos ligeiros, uma “melhor governação do erário público, com maior rigor nas contas públicas”, e o “cumprimento de prazos e realização de investimentos públicos com base em estudos prévios de viabilidade e rentabilidade económica para o país”.
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