“Acho que há aqui um caminho que foi aberto, temos de ver como é que pode ser formatado e procurar formatar. O que nós devemos evitar na UE é, muitas vezes, abrir fraturas muito profundas e ruturas muito radicais a propósito de questões que, efetivamente, na prática não existem. Verifico que alguns dos países onde as respetivas opiniões públicas mais recusam a presença de imigrantes são, muitas vezes, aqueles que não têm imigrantes nenhuns e onde também ainda não foi encontrado um único refugiado que queira ir para aí”, observou.

O primeiro-ministro abordava assim o conceito de “solidariedade flexível” que saiu da reunião informal de chefes de Estado e de Governo que decorreu hoje em Salzburgo, na Áustria, mas que ainda não tem contornos definidos.

“É um sinal de que todos são disponíveis para uma abordagem pragmática da questão, e isso passa por perceber primeiro que nós temos de ter um sistema único e comum a todos para a gestão dos fluxos migratórios e que todos têm de participar nesse sistema comum. As modalidades de participação poderão eventualmente variar, e isso de acordo com aquilo que cada um pode fazer de melhor, aquilo que tem melhores condições para fazer e aquilo que cada um deseja fazer”, esclareceu.

Elucidando que “os portos que estão mais próximos das zonas de maior pressão migratória estão obviamente em melhores condições do que os portos do Atlântico para ser os portos de acolhimento”, avançou que o papel de Portugal passará pelo desenvolvimento da cooperação com o continente africano.

Costa reiterou que esta é “uma porta, um caminho que vale a pena explorar”, de modo a permitir que os Estados-membros cheguem a um acordo que permita ter “um sistema que funcione de forma mais eficaz” e que evite que os líderes europeus estejam “sempre a ter que telefonar uns aos outros” para perceber como podem responder a cada emergência.

“Temos de ter um sistema estável, consolidado em que cada um saiba o que lhe compete fazer e depois possa funcionar normalmente”, completou.

Antes, o primeiro-ministro português tinha revelado que a reunião informal decorreu de forma “mais tranquila” que a tensa cimeira de junho.

“Este Conselho informal aqui em Salzburgo, provavelmente inspirado pela Música no Coração, correu francamente melhor do que último Conselho Europeu. Não saímos daqui tão unidos como a família Von Trapp, mas creio que estamos no bom caminho para que em outubro, seja nas migrações, seja no ‘Brexit’, possamos avançar com maior consistência do que a situação em que estávamos em Junho”, resumiu.