"Não é de se estranhar (com) estas declarações que o senhor Milei faz. Tem conflitos com a Espanha, com o Brasil, com o Paraguai; teve altercações com o Chile também (...) Na realidade, acho que não ajuda à boa vizinhança (...) essa contenciosidade que tem mostrado", disse Arce em entrevista à AFP nesta quarta-feira.
Crítico inflexível da esquerda, Milei questionou a veracidade da denúncia do governo de Arce sobre a rebelião militar da semana passada, quando tropas com tanques sitiaram por várias horas o palácio presidencial em La Paz, antes de se retirarem.
Em resposta à posição adotada pelo líder argentino, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Bolívia convocou o seu embaixador em La Paz para consultas na segunda-feira.
"Sabe-se da fraude montada na Bolívia e o idiota perfeito, em vez de reconhecer o seu erro, critica-me por mostrar a sua estupidez", escreveu Milei na rede social X, sem mencionar Arce.
"Na verdade, creio que essas declarações não ajudam à boa vizinhança; essa conflituosidade que ele mostrou", respondeu o presidente boliviano.
Arce também lamentou que o posicionamento do mandatário ultraliberal argentino coincida agora com o de Evo Morales, o seu ex-aliado e hoje maior adversário político, por quem também foi acusado de planear um "autogolpe".
"O que mais nos surpreende é a coincidência que Milei tem com Evo Morales", a quem ele "tomou como fonte" para desacreditar a revolta militar, acrescentou Arce, líder do dividido Movimento ao Socialismo (MAS) fundado pelo ex-presidente indígena.
"Acredito que Evo ainda tem tempo para decidir de que lado da história quer estar (...) porque claramente a posição defendida pelo senhor Milei não é uma posição de esquerda, não é uma posição progressista", enfatizou o presidente boliviano.
Após a revolta militar, foram detidos 22 militares ativos, reformados e civis, incluindo os três ex-comandantes das Forças Armadas. O governo acusou o ex-chefe do Exército, general Juan José Zúñiga, de liderar a tentativa de golpe.
No momento da sua prisão em 26 de junho, o oficial afirmou que Arce pediu-lhe para preparar algo para aumentar a sua popularidade, acusações que o presidente boliviano rejeitou veementemente.
A rebelião militar ocorreu num momento em que a Bolívia enfrenta uma crise económica devido à falta de dólares e combustível, associada à queda das exportações de gás, a sua principal fonte de divisas até 2021.
Na entrevista à AFP, Arce destacou a sua decisão de suspender o uso de criptomoedas como meio de pagamento para lidar com a escassez de dólares.
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